No fenomenal livro “O Valor do Amanhã”, de Eduardo Giannetti, há um ensaio sobre o valor das trocas intertemporais, ou seja, o quanto você aceita de custo hoje em nome de um benefício futuro.
Você, leitor, prefere viver depois e pagar agora? Ou viver agora e pagar depois?
Se você for igual à maioria dos brasileiros, certamente preferirá viver agora e pagar depois, com muito… muito juro.
O autor chama os juros de “preço da impaciência”.
O que é genial é entender que cada pessoa se comporta de uma forma diferente. Há pessoas mais impacientes que outras e, da mesma forma, há sociedades mais impacientes que outras.
Experimento mental
Tive o prazer imenso de ser aluna do Giannetti e assistir a uma palestra dele sobre o valor do amanhã.
Ele menciona, por exemplo, que nos comportamos de modos diferentes na infância, juventude e velhice.
Em um experimento com crianças de 4 anos, foi oferecido o chocolate preferido de cada uma. Elas tinham a opção de comer um chocolate imediatamente ou dois se esperassem 20 minutos. A qualquer momento, elas poderiam tocar o sino e receber apenas um chocolate. O resultado foi que 100% das crianças optaram por comer um antes dos 20 minutos.
Já aos 12 anos, 60% das crianças esperaram 20 minutos.
Seguindo o estudo ao longo do tempo, perceberam que as crianças de 4 anos que aguentaram por mais tempo antes de tocarem o sino obtiveram melhores notas no ensino fundamental, entraram em maior número na faculdade e se envolveram menos em conflitos familiares ou legais.
Descobriram também que, estatisticamente, crianças que contavam com a presença do pai no seu dia a dia apresentavam índices de paciência melhores.
O pai representa, possivelmente, a entidade responsável por te dizer “não”, gerando capacidade de lidar com adversidades e restrições. Nas palavras de Giannetti, isso é responsável por criar “musculatura”.
Figura paterna
Não sei quanto a vocês, mas eu tive a sorte de ter um pai casca grossa.
Respeito era crucial, assim como obediência e disciplina, além, é claro, de amor.
Como ele lidava com as minhas manhas? Eu te pergunto: que “manhas”? Eu não era nem louca de fazer uma. Não havia essa opção. Não tinha espaço.
Enquanto minha mãe tentava me botar embaixo de suas asas, meu pai me jogava da árvore rapidamente. Estava ele a criar a minha musculatura.
A infância é crucial na formação do nosso caráter. Então, para os pais que evitam as frustrações dos filhos, fica o recado: vai faltar musculatura lá na frente!
Na juventude, as coisas mudam. As alterações hormonais aumentam a impulsividade, e isso ocorre principalmente nos homens (sabemos bem disso, não é?).
Juventude: Impulsividade + otimismo ingênuo
A impulsividade fazia sentido na época dos primatas. Homens caçavam e tinham que aproveitar a energia para conquistar os desafios da sobrevivência.
Na sociedade atual, isso é um problema, e somos chamados a fazer as escolhas mais importantes da vida (profissão, casamento) exatamente nessa fase de alta impulsividade.
Giannetti comenta que não é à toa que mais da metade da população carcerária é composta de homens jovens. Há uma falha na ponderação da paciência.
Além da impulsividade, somos muito otimistas na juventude e confiamos demasiadamente no futuro.
Isso explica, por exemplo, o uso indiscriminado de drogas, inclusive aquelas com sequelas permanentes.
Se houvesse uma racionalização do custo x benefício das drogas, haveria tantos jovens nessa onda? Certamente não! Ainda mais nos tempos de hoje.
Poupar desde cedo
No passado, isso não fazia tanta diferença. Vivíamos menos. Hoje, temos que conviver por muito mais tempo com as consequências dos nossos atos.
Com expectativa de vida de 40 ou 50 anos, o tabagismo não chegava a ter “juros”.
Não vivíamos para ver as dificuldades geradas por seu uso indiscriminado. Agora, o cigarro foi banido da convivência social.
O envelhecimento da população e aumento da expectativa de vida está fazendo com que todos nós tenhamos que poupar mais! Poupar mais saúde, mais dinheiro, mais prazeres momentâneos.
Sairá melhor posicionado dessa realidade aquele que é menos impaciente e impulsivo. Para isso, pais e mães, é preciso musculatura!
Se você é daqueles que não praticam nenhum esporte, também deve ter dificuldade para juntar dinheiro. O valor do amanhã pra você parece pequeno, não é?
Você é daqueles que terão que esperar a chegada dos 75 ou 80 anos, cheios de doenças e dores, com falta de disposição e de dinheiro para curtir a família para perceber que deviam ter se cuidado?
Mas vamos em frente com Giannetti…
Maturidade: consciência mais definida
Ele diz que na maturidade há um serenamento da impulsividade juvenil, de modo que já somos capazes de ponderar de forma mais neutra. Conseguimos perceber melhor o valor do amanhã.
É, por exemplo, o momento em que prestamos mais atenção no dinheiro e na construção de patrimônio.
Não por outro motivo, 62,5% dos nossos assinantes têm entre 30 e 55 anos, sendo que 17% se concentram apenas entre 35 e 39.
Mesmo assim, temos uma grande armadilha que ele chama de “desconto hiperbólico”.
Funciona mais ou menos assim: quando a situação está no futuro distante, você consegue ponderar os prós e contras brilhantemente (utilizando seu córtex pré-frontal) e planejar as melhores escolhas. No entanto, quando você se aproxima da decisão, seu sistema límbico entra em ação e você sucumbe aos prazeres do agora.
Por exemplo, quantos de vocês já planejaram poupar um dinheiro que iriam receber no futuro? Somos ótimos em poupar um dinheiro que ainda não recebemos…
Mas quando o dinheiro cai na conta, quantos de vocês resistem à tentação de gastar com uma ou outra coisinha?
Difícil, não é?
Faltou musculatura…
Mas Marilia, o que isso tem a ver com a Renda Fixa?
Oras, tem tudo a ver com o poder da renda fixa na sua vida.
A Renda Fixa lida com juros. Lida exatamente com o valor do amanhã. A renda fixa premia quem é mais paciente.
O córtex pré-frontal e a renda fixa
Os juros compostos funcionam como uma pirâmide invertida, na qual uma pequena poupança hoje representa um milhão amanhã.
Todo mês que você poupa, adiciona um triângulo crescente no seu patrimônio futuro.
Significa uma pequena bola de gelo que se transformará em uma grande bola de neve patrimonial.
Você, leitor, que controlar a sua cigarra límbica, desfrutará dos prazeres da riqueza.
Se, por exemplo, na sua juventude impulsiva, você optasse por acumular R$ 900 por mês, depois de 30 anos (com um juro real de 6,5%), você seria um milionário! Isso já considerando o efeito da inflação.
Como você gostaria de ter pensado nisso antes, não é mesmo? Eu também…
O caminho para a independência financeira é o mesmo caminho da saúde. É o das trocas intertemporais, da valoração do amanhã, dos juros, da disciplina e do controle da impulsividade.
Investir em renda fixa é investir em um ativo que seguirá subindo e rendendo juros sobre juros e, pacientemente, te tornará muito rico.
Além disso, como eu disse na coluna anterior, a renda fixa pode pagar também juros muito agressivos.
Se você fizer a mesma simulação dos R$ 900 mensais de cima, só que com um juro real dobrado de 13%, você acumula o mesmo milhão em apenas 20 anos!
Quer se aposentar mais cedo? Quer desfrutar dos prazeres da vida?
Então use o córtex pré-frontal e a renda fixa!
Espero você do outro lado.