O precedente
Retomo a palavra nesta terça-feira, após emprestar o espaço para meu sócio Felipe Miranda, autor da tese do Fim do Brasil, divulgar ontem sua nota de esclarecimento sobre o imbróglio envolvendo a Empiricus no TSE.
Isso posto, é bola para frente, business as usual, sem fingir indiferença à importância do ocorrido. Os que nos conhecem de perto sabem que defendemos a antifragilidade inclusive sobre nós mesmos. Passado o triste episódio de cerceamento, vamos crescer com o choque. Estamos mais fortes.
O que temos para hoje?
A matéria da agência Reuters é enfática ao abordar os desdobramentos da questão:
“O que está escrito lá é o que 99 por cento dos analistas de mercado falam há no mínimo três meses" - disse um economista de um grande banco estrangeiro no Brasil, que também pediu para não ser identificado. "Está todo mundo preocupado, foi um absurdo.”
Gestores, economistas e analistas estão se escondendo, evitando emitir opiniões sobre a situação atual dos mercados e da economia. Ou, qual a credibilidade das análises daqui para frente?
A tese de “terrorismo econômico” tomou, enfim, a sua forma mais precisa.
Convite
Em tempos de dificuldade de se encontrar opiniões sobre o impacto de política econômica sobre os mercados, organizamos um evento no qual faremos uma apresentação sobre opcionalidades eleitorais e nosso convidado, Fernando Abrucio, coordenador do curso de administração pública da FGV, analisará o ciclo inverso: o impacto da economia e mercados nas eleições.
Ocorrerá em 12 de agosto, no período da manhã. Dado o contexto, acho realmente imperdível. Sou pessoalmente um fã do Fernando Abrucio.
O ingresso (para presença física e/ou acesso via vídeo) é válido para todos os assinantes de nossa Carteira Empiricus, pacote de estratégia mais completo da Empiricus, que aborda todas as classes de ativos e faz monitoramento semanal das estratégias, dizendo exatamente o quanto você precisa ter de renda fixa, ações, câmbio e imóveis; e o que comprar em cada mercado. Para maiores informações, acessem nosso site.
O espírito da coisa
Você conhece as histórias de Apolo e Dionísio?
Eles foram utilizados por Nietzsche para se referir à natureza humana. É mais ou menos assim...
Dois seres convivem dentro do ser humano. Apolo (correto, racional, preciso, matemático) e o Dionísio (aventureiro, espontâneo, instintivo).
O espírito comumente atribuído aos empresários, no entanto, costuma ser o Espírito Animal. John Maynard Keynes e Robert Shiller são apenas alguns dos economistas de renome que utilizaram o termo para resumir como as emoções influenciam o comportamento e confiança de empresários, consumidores e demais agentes econômicos...
Aonde quero chegar com isso
Poxa, mas os índices de confiança estão lá embaixo, e os empresários e consumidores não acabaram de receber o que sempre quiseram: um pacote de desonerações?
Não seria um grande paradoxo?
Ao conferir (e argumentar) em prol das desonerações, enquanto a contraparte é de completa incerteza quanto aos rumos da economia, estamos limitando o empresário e consumidor a apenas um dos lados da moeda (apolíneo), além de ser de forma pontual. Apenas para determinados setores e com contrapartida de aumentos de impostos em outras pontas.
Vá perguntar aos representantes dos principais setores desonerados como eles estão: setor elétrico, consumo de linha branca, siderúrgico, automotivo, de auto-peças...
O que o empresário realmente quer?
Alguma visibilidade sobre as decisões de investimento, e ser devidamente remunerado pelo risco. Em que ponto cerceamento de gestores, economistas e analistas contribui com esta visibilidade? Precisamos mexer com as forças dionisíacas. Não tente tirar a incerteza do processo. Deixe o empresário se beneficiar dela, em vez de ficar regulando tudo.
Bom, não acho que esta turma leu Nietzsche.
Indiferença
Falando nisso, dentre as novidades do noticiário corporativo desta terça-feira temos os resultados da Autometal (AUTM3).
Foram resultados fracos, com queda de receita líquida (-3,1%), de margens em geral e forte desaceleração do lucro (-43%).
No entanto, as ações da Autometal (AUTM3) reagem com indiferença, firmes e fortes na casa de R$ 19. O que poderia explicar isso?
O fato de as ações estarem amarradas ao preço da oferta para fechamento de capital, marcado a R$ 19,11. Portanto, por melhor ou pior que fosse, seria um resultado não-evento para as ações da Autometal.
O que não se pode é confundir a indiferença das ações com indiferença à dura realidade do setor.
Fonte: Autometal
A produção de veículos leves sofreu queda de 23,5% no Brasil no segundo trimestre.
Por outro lado:
+ cresceu 3,6% no Nafta (EUA, México e Canadá)
+ cresceu 2,1% na Europa
+ ficou estável (+0,1%) na Índia
Isso, sem contar a China, pouco representativa aos mercados-alvo da Autometal.
O problema vem de fora?
O exemplo da Autometal é.... apenas um exemplo. Seria superestimar o micro e subestimar o macro da coisa.
Então vejamos uma aplicação ampla de variáveis macro, tomando por base projeções do FMI:
Qual experimenta a relação crescimento/inflação mais crítica? Somos a segunda maior inflação e o terceiro pior crescimento da lista. Ponderando que a Rússia enfrenta um período de sanções e conflito interno, e lembrando que, para o Brasil, o FMI recém revisou para baixo os números, e não descartaria novas revisões. Tomando por base o último relatório Focus, são 0,9% de crescimento com 6,4% de inflação para 2014.
Em que pese algum efeito do ambiente internacional, a tese de que estamos patinando por conta de uma crise externa não para em pé. E enquanto tivermos um diagnóstico errado, nem sequer podemos pensar num prognóstico acertado.
A tese do Mansueto (e da imparcialidade)
O economista Mansueto Almeida, de quem também sou fã, traz alerta interessante a respeito da previdência. Vendo a possibilidade de “truque fiscal”, ele chama atenção para o crescimento da despesa com previdência este ano até maio ser de R$ 7,4 bilhões, quando deveria ter sido pelo menos o dobro.
Mansueto suspeita que “é possível que o governo esteja utilizando bancos públicos (a Caixa Econômica Federal, por exemplo) para fazer o pagamento dos benefícios e apenas posteriormente repassando os recursos para a CEF. Não sei se isso ocorreu ou vem ocorrendo, mas, teoricamente, é possível que a despesa previdenciária seja paga por um banco público antes da saída do recurso da Conta Única do Tesouro exatamente na virada do mês. Assim, com uma defasagem de poucos dias, seria possível gerar uma falsa economia na despesa previdenciária.”
Lembra das críticas que vínhamos fazendo à política fiscal? Então, a coisa pode ser muito pior.
Para visualizar o artigo completo visite o site da Empiricus Research.