Aneel diz que outubro terá bandeira tarifária vermelha patamar 1
Nos últimos anos, morar em São Paulo — ou em qualquer grande capital brasileira — deixou de ser uma escolha baseada em oportunidades e passou a ser um fardo financeiro. Para muitos, tornou-se simplesmente inviável. A combinação explosiva de inflação, especulação imobiliária e ganância desenfreada de proprietários e investidores está expulsando pessoas comuns para longe dos centros urbanos, criando uma cidade cada vez mais elitizada e menos humana.
A culpa não é só da crise econômica ou da inflação, embora elas ajudem a compor o cenário. O problema central é a forma como o mercado imobiliário tem sido conduzido — ou, melhor dizendo, deixado livre para agir sem qualquer regulação. As plataformas digitais de venda e aluguel, como Zap Imóveis, OLX, QuintoAndar e afins, tornaram-se vitrines de preços absurdos, sem critério ou responsabilidade. Proprietários inserem valores baseados em comparações irreais, e os demais seguem a mesma lógica, inflando ainda mais os preços.
O resultado? Aluguéis incompatíveis com a renda média da população, imóveis à venda com preços surreais, e, ironicamente, uma quantidade cada vez maior de apartamentos vazios. O mercado se alimenta da própria especulação, sem entregar o básico: moradia digna e acessível. E quem sofre com isso não são os donos de imóveis vazios, mas sim os milhares que precisam se mudar para longe, gastar horas no transporte público e viver à margem da cidade.
Esse processo de expulsão silenciosa é o que chamamos de gentrificação: bairros antes acessíveis passam a ser "valorizados" artificialmente, expulsando moradores tradicionais e atraindo apenas quem pode pagar caro — ou quem está disposto a se endividar. A cidade se transforma num palco de fachadas: prédios luxuosos, ruas revitalizadas, cafés descolados... e um vazio social crescente. A vida comunitária some, os comércios locais fecham, e o que resta é um bairro bonito, mas sem alma. Pior ainda, sabemos que bairros vazios viram lugar perfeito para a bandidagem, logo, impacto da desigualdade (mas esse assunto é para um outro tema).
Portanto, percebe-se que, ao contrário do discurso meritocrático que costuma acompanhar esse tipo de debate, não se trata de um mercado "livre" funcionando corretamente. Trata-se de um ambiente sem regras, onde o lucro está acima de qualquer noção de justiça social. A moradia virou investimento, e não direito. E enquanto isso persistir, seguiremos construindo cidades para poucos.
É urgente discutir políticas públicas de habitação que priorizem o uso social dos imóveis, limitem reajustes abusivos e impeçam que plataformas alimentem bolhas de preços sem consequência. A cidade precisa ser para todos — e isso começa pelo direito de morar nela. Simples assim!
Abraço.