A Mãe Natureza se uniu ao petróleo para elevar os preços do açúcar.
A seca na Índia, segundo maior produtor mundial de açúcar, fez com que a produção no estado de Maharashtra – que abriga a emblemática capital comercial do país, Mumbai, e a cidade cinematográfica Bollywood – quase atingisse as mínimas de três anos. Isso animou a perspectiva para os preços do adoçante, principalmente por causa da restrição de oferta no Brasil, maior produtor, onde mais plantações de cana foram destinadas à fabricação de etanol devido à disparada no petróleo.
A proporção obrigatória de etanol na gasolina brasileira é de 27%%, bem maior do que os 10% obrigatórios na maioria dos combustíveis automotivos dos EUA. Isso fez com que os agricultores de cana-de-açúcar locais focassem mais na indústria energética do que nos alimentos para o seu mercado, uma estratégia que está dando resultado graças ao poderoso rali do petróleo neste ano.
Menos de 39% da cana triturada no Brasil seriam destinados à fabricação de açúcar, pois o etanol continua atraindo a produção, segundo uma reportagem veiculada no mês passado pela Platts, agência de notícias de negócios do S&P Global (NYSE:SPGI).
A combinação de ambos os fatores permitiu que o açúcar em bruto tivesse o melhor desempenho entre as commodities agrícolas. Os futuros de açúcar negociados em Nova York se valorizaram mais de 6% no acumulado do ano, contra um aumento de menos de 1% no cacau e uma desvalorização de quase 8% no café e 13% no suco de laranja.
Nos últimos dois anos, os futuros de açúcar em Nova York despencaram quase 40% por causa do excesso de oferta.
No fechamento de terça-feira, a 12,77 centavos por libra, os futuros de açúcar com vencimento em maio na ICE (NYSE:ICE) Futures, de Nova York, ainda recebiam recomendação de “Forte Compra” dos analistas técnicos do Investing.com. A resistência imediata para o contrato estava fixada a 13 centavos. Se chegar a esse nível, pode ter a chance de testar novamente a máxima de 2019 de 13,50 centavos, atingida em 17 de fevereiro.
A Bloomberg informou que o prolongado clima seco em Maharashtra, na Índia, estava afetando os canaviais do estado, podendo provocar uma queda de 25% na produção em relação ao ano passado, a qual atingiria apenas 8 milhões de toneladas no ano iniciado em 1 de outubro. Essa seria a maior queda desde 2016-17, quando a produção despencou quase pela metade.
Essa perspectiva se baseia nas estimativas da Skymet Weather Services, que prevê uma monção mais seca do que o normal para o país neste ano, o que afetaria os cultivos. Isso pode trazer um pouco de alívio a países produtores como a Austrália e o Brasil, que reclamaram junto à Organização Mundial do Comércio que os subsídios e o excesso de exportação da Índia estavam comprimindo os preços globais.
Apesar dos aspectos técnicos e dos fundamentos na Índia e no Brasil, alguns analistas, como Jack Scoville, do Price Futures Group, em Chicago, pediram cautela na hora de comprar essa disparada do açúcar.
“Os fundamentos ainda sugerem que as grandes ofertas e a elevada produção na Ásia também ajudarão a colocar em xeque os ralis”, afirmou Scoville, citando a maior produção na Tailândia e no Paquistão, entre outros aspectos.
Mas ele reconhece que o Brasil tem usado uma parcela maior das suas lavouras de cana para produzir etanol em vez de açúcar, e o clima no maior país produtor ficou mais seco do que o ideal.
A relação açúcar-etanol no Brasil para a cana foi em média 44:56 nos últimos cinco anos.
Mas a disparada do petróleo neste ano, que fez o West Texas Intermediate, dos EUA, subir 41% e o Brent, referência global, 31%, inclinou a balança ainda mais para lado do etanol.
A Platts afirmou que os preços do etanol brasileiro mantiveram um prêmio maior em relação às cotações do açúcar doméstico, atraindo mais produção de cana para esse fim. O aumento no consumo de combustível acima do esperado no Brasil, por sua vez, estava impulsionando ainda mais a produção de etanol.