Taxas de juros em tendência de alta, déficit fiscal descontrolado e empresas endividadas. Esses e outros fatores levam a um cenário de incerteza sobre qual o melhor investimento no momento. Em momento assim, é hora de priorizar a liquidez dos recursos e aplicações de baixo risco, para aproveitar os momentos ideais de entrada.
Nos últimos meses, vimos altas recorrentes no mercado acionário, que fez o Ibovespa superar os 137 mil pontos no final de agosto. De lá para cá, a volatilidade passou a imperar e agora o índice gira em torno dos 130 mil pontos. O movimento ilustra o fato de que, em uma conjuntura como a atual, não há como esperar que qualquer onda de otimismo se mantenha por muito tempo. Afinal, os fundamentos não mudaram, mesmo Galípolo indo para a presidência do Banco Central.
Temos uma dívida pública gigantesca e ainda longe de estar controlada, como tenta argumentar o ministro Fernando Haddad. A meta de déficit fiscal zero pode até ser cumprida neste e no próximo ano, mas a dívida deve continuar crescente. Em outras palavras, entregar o déficit zero não quer dizer que as contas públicas estão resolvidas. Talvez esse seja apenas um protocolo a ser cumprido, através das maravilhas que a contabilidade criativa pode oferecer. No último relatório Prisma Fiscal, os economistas consultados pelo Ministério da Fazenda projetam que a dívida pública chegará a 77,72% do PIB ao final de 2024 e a 80,32% do PIB no próximo ano.
O descontrole das contas públicas de um governo historicamente gastador bate de frente com a política monetária, como o próprio Copom deixou claro na última decisão de elevar a Selic em 10,75% ao ano. “O Comitê monitora com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. A percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal, junto com outros fatores, tem impactado os preços de ativos e as expectativas dos agentes. O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”.
No cenário externo, o Federal Reserve anunciou um corte de 50 pontos-base nas taxas de juros em setembro. A expectativa é de que, nas próximas reuniões, os juros devem ser reduzidos com mais um ritmo mais cauteloso do que foi necessário em setembro.
São muitas as variáveis que precisam ser observadas quando avaliamos o momento atual do mercado brasileiro. Há quem pregue que, com as taxas de juros mais altas, o ideal é voltar para a renda fixa que, teoricamente, renderá mais com baixíssimo risco. Digo teoricamente porque muitos investimentos ditos sem risco investem em crédito privado corporativo que nada têm de ‘ganho certo’, vide a crescente inadimplência dentre as empresas brasileiras.
A lição que fica é que, em qualquer cenário, primeiro o investidor deve avaliar qual risco está disposto a correr para obter um pouco mais de rentabilidade antes de investir. Muitas vezes, a possibilidade de ter um retorno um pouco acima do CDI ou a ganância despertada por promessas miraculosas falam mais alto. Ao ver a alta das ações dia após dia, por exemplo, a tendência é de entrar no mercado em alta e realizar o prejuízo na baixa e o mesmo acontece ao olhar para investimentos que prometem mais do que cumprem.
O momento requer serenidade, tanto na renda fixa como na variável. Na renda fixa, há opções no mercado que oferecem liquidez com rentabilidade alinhada ao CDI, que levam ao milagre da multiplicação dos juros compostos no longo prazo sem surpresas futuras. Basta observar as opções de fundos caixa existentes no mercado.
Já os investimentos em ações precisam de estudo dos fundamentos, não só macroeconômicos, mas também das empresas que comporão a carteira. É preciso avaliar a solidez do negócio e não apenas os altos e baixos do dia a dia. Isso deixamos para o day trade. Gestores devem ver as estratégias de valor e carregarem em suas carteiras empresas que tiveram ótimos resultados e manter estratégias de arbitragem para reduzir a volatilidade de seus fundos. Afinal, gerar retorno com volatilidade alta é mais próximo de um cassino do que de estratégia de investimento.