Tesouro Direto em cenário de juros altos: Uma visão elementar

Publicado 05.06.2025, 13:15

*Com Rafaella Malaguti e Camila Cuquejo

Como você sabe é possível emprestar dinheiro para o governo e, em troca, receber uma rentabilidade “segura”. Essa possibilidade existe é mais acessível do que muita gente imagina. Criado para democratizar o acesso aos investimentos, o Tesouro Direto permite que qualquer pessoa, mesmo com pouco capital, comece a investir de forma simples, prática e segura.

O Tesouro Direto é um programa do governo federal que possibilita a compra de títulos públicos pela internet e sem burocracia. Para todos os títulos oferecidos, o valor mínimo de aplicação corresponde a 1% do valor total do título, o que torna o investimento ainda mais acessível. Na prática, ao investir por meio do programa, você está emprestando dinheiro ao governo em troca de uma remuneração, que pode variar conforme o tipo de título escolhido.

O ambiente do Tesouro oferece diversas opções de investimento, permitindo que você escolha o título mais adequado aos seus objetivos, seja ele de curto, médio ou longo prazo. E quanto ao risco?

Os títulos públicos vendidos pelo Tesouro Direto são garantidos pelo próprio governo federal, ou seja, têm a segurança do Tesouro Nacional por trás. Por isso, são considerados os investimentos de menor risco do país, mesmo sem a cobertura do FGC (Fundo Garantidor de Créditos), que vale para investimentos bancários.

Apesar de serem considerados investimentos de baixo risco, os títulos públicos podem oferecer boa rentabilidade e liquidez diária, ou seja, é possível resgatar o seu dinheiro a qualquer momento. No entanto, ao vender o título antes do vencimento, o valor de resgate pode variar conforme as condições do mercado, especialmente a taxa de juros. Para garantir o retorno prometido no momento da compra, o ideal é manter o título até o vencimento.

Serão tratados aqui os diferentes tipos de títulos disponíveis no Tesouro Direto. Esse investimento pode ir muito além da poupança, ampliando o horizonte de possibilidades de ganhos.

É importante destacar que todos os títulos apresentados a seguir seguem a tabela regressiva do Imposto de Renda. Nesse modelo, a alíquota diminui conforme o tempo de aplicação: 22,5% para resgates em até 180 dias, 20% entre 181 e 360 dias, 17,5% entre 361 e 720 dias e 15% para aplicações com mais de 720 dias. O imposto incide apenas sobre os rendimentos, e não sobre o valor total investido e é descontado no momento do resgate. Também há a cobrança de uma taxa de custódia de 0,2% ao ano pela B3 (BVMF:B3SA3), calculada proporcionalmente ao período em que o investimento permanecer aplicado.

Tesouro Selic: ideal para quem quer começar 

O Tesouro Selic é um título público pós-fixado, com rentabilidade atrelada à variação da taxa Selic diária, acrescida ou descontada de uma taxa definida no momento da compra. É um dos investimentos mais recomendados para quem está começando a investir e busca segurança, liquidez e praticidade.

Esse investimento é indicado especialmente para investidores com perfil mais conservador e para quem deseja uma alternativa mais rentável que a poupança, que atualmente rende menos que a Selic. Além disso, é uma excelente alternativa para reservas de emergência e objetivos de curto e médio prazo.

Embora cada título possua um vencimento específico, não é necessário mantê-lo até essa data. O Tesouro Selic possui liquidez diária: você pode vender o título a qualquer momento, com o valor creditado na sua conta no dia útil seguinte. O preço de venda é atualizado com base na taxa Selic acumulada até o momento da venda, o que assegura alguma previsibilidade nos rendimentos mesmo em resgates antecipados.

Tesouro IPCA+ e IPCA com Juros Semestrais: proteção para o futuro

O Tesouro IPCA é um título público indexado à inflação e, como o próprio nome já diz, é medido pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo. Seu principal objetivo é proteger o poder de compra do investidor no longo prazo, oferecendo uma rentabilidade real garantida, composta pela variação do IPCA ao longo do tempo, acrescida de uma taxa de juros fixa definida no momento da aplicação. Isso significa que o investidor sempre terá uma rentabilidade real positiva, ou seja, acima da inflação.

Indicado principalmente para objetivos de longo prazo, como a compra de um imóvel ou planejamento de aposentadoria, o título garante a rentabilidade contratada se mantido até o vencimento. No entanto, costuma apresentar maior volatilidade no curto prazo. Por isso, a venda antecipada pode resultar em perdas se as taxas de juros subirem. Ainda assim, o título possui liquidez diária, com resgate disponível em dias úteis e crédito no dia útil seguinte.

Ademais, existe também a versão com juros semestrais, que oferece os mesmos componentes de rentabilidade, porém com pagamentos de juros a cada seis meses. Essa alternativa é indicada para quem deseja uma renda periódica com previsibilidade, como investidores que buscam renda complementar.

Assim como os demais títulos do Tesouro Direto, o Tesouro IPCA segue a tabela regressiva do Imposto de Renda. Na versão com juros semestrais, porém, o IR é cobrado a cada pagamento, o que reduz o benefício da tabela ao longo do tempo.

Considerando seus benefícios e o cenário atual, o Tesouro IPCA se mostra uma excelente opção para quem deseja preservar seu poder de compra ao longo do tempo, especialmente em um país com histórico de inflação elevada como o Brasil. Com a expectativo de IPCA de 5,46% para o fechamento de 2025, segundo o último destaque do Focus (30/05/2025), bem acima do teto da meta de 4,5% estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional, o cenário reforça a importância de investimentos que ofereçam proteção contra a inflação.

Tesouro Prefixado: previsibilidade para quem gosta de planejar

O Tesouro Prefixado é indicado para quem valoriza segurança e previsibilidade. Sua principal característica é a taxa de rentabilidade definida no momento da aplicação. Isso significa que, ao investir, você já sabe quanto receberá no vencimento, independentemente de oscilações nas taxas de juros ou na inflação.

Há duas versões disponíveis. Na tradicional, o valor total, que inclui o principal e os juros, é recebido apenas no vencimento. Já na versão com juros semestrais, o investidor recebe os rendimentos a cada seis meses, o que pode ser interessante para quem busca uma renda periódica.

O Imposto de Renda incide apenas sobre os rendimentos e segue a tabela regressiva. Na versão com juros semestrais, o imposto é cobrado a cada pagamento, o que reduz o benefício da tabela regressiva ao longo do tempo.

O cenário atual de juros no Brasil, que atingiu o maior patamar em duas décadas, levanta cautela em relação à entrada imediata em títulos prefixados. Isso porque, ao investir agora, o investidor pode acabar travando uma taxa que ainda não representa o topo do ciclo, perdendo a chance de garantir uma rentabilidade mais alta no futuro. A marcação a mercado é o mecanismo que ajusta diariamente o preço dos títulos conforme as oscilações das taxas de juros. Quando os juros sobem, o valor de mercado dos títulos prefixados tende a cair, o que pode resultar em perdas financeiras no caso de venda antecipada.

Diante das expectativas de continuidade da elevação dos juros, os títulos pós-fixados tendem a ser mais vantajosos neste momento. Já os prefixados passam a fazer mais sentido quando houver maior confiança de que o movimento será de queda consistente nas taxas. Nesse contexto, travar uma taxa elevada se torna uma estratégia eficiente para garantir rendimentos mais competitivos ao longo do tempo.

Tesouro RendA+: aposentadoria com estabilidade

O Tesouro RendA+ foi criado para quem deseja se aposentar com mais segurança e tranquilidade. Ele se destaca por ser fácil de entender e simples de investir, especialmente quando comparado a planos de previdência privada, que costumam ser mais complexos.

Esse título público oferece uma renda mensal complementar por um período de 20 anos, com início na data escolhida pelo investidor como o momento da aposentadoria. Até lá, é possível acumular o título com compras avulsas ou aportes mensais automáticos, o que facilita o planejamento de longo prazo. Quando os pagamentos começam, cada parcela é corrigida pela inflação (IPCA), o que ajuda a preservar o poder de compra ao longo do tempo.

Durante o período de recebimento da renda, quem recebe até seis salários mínimos por mês está isento da taxa de 0,20% ao ano cobrada pela B3. Para valores acima desse limite, aplica-se uma taxa de 0,10% ao ano apenas sobre o valor que exceder o teto. Em caso de venda antecipada, a taxa de custódia varia conforme o tempo de permanência: 0,50% ao ano para resgates em até 10 anos, 0,20% ao ano entre 10 e 20 anos, e 0,10% ao ano acima de 20 anos. No vencimento, não há cobrança.

A tributação segue a tabela regressiva do Imposto de Renda. Cada parcela mensal recebida é composta por duas partes: uma parte referente à devolução do valor investido, que é isenta de IR, e outra parte correspondente aos rendimentos, que são tributados conforme o tempo de aplicação.

Como se trata de um título voltado ao planejamento de longo prazo, o Tesouro RendA+ pode ser uma escolha acertada em qualquer momento. Sua rentabilidade é híbrida, pois combina uma taxa de juros prefixada com a correção pela inflação. Ainda que a parte prefixada possa representar um risco em cenários de incerteza sobre os rumos da taxa de juros, especialmente se houver novas altas, esse não é o foco principal do investimento. O objetivo do Tesouro RendA+ é oferecer previsibilidade e segurança para o futuro, sendo ideal para quem pretende manter o título até o vencimento.

Nesse sentido, o atual cenário de juros elevados pode até beneficiar o investidor, já que a taxa contratada hoje tende a resultar em um rendimento real mais atrativo ao longo do tempo.

Em um contexto de incertezas quanto à previdência pública, o Tesouro RendA+ oferece estabilidade e controle, sendo uma opção simples e transparente para quem deseja planejar o futuro com autonomia. A proposta foi, inclusive, elogiada por James Heckman, ganhador do Prêmio Nobel de Economia, como um exemplo de solução inovadora capaz de tornar o sistema previdenciário brasileiro mais sofisticado e acessível.

Tesouro Educa+: educação como prioridade

O Tesouro Educa+ foi criado para quem deseja garantir uma educação de qualidade para filhos ou dependentes. Seu funcionamento é semelhante ao do Tesouro RendA+, mas com foco em objetivos educacionais. Ao investir nesse título, o investidor escolhe uma data futura para o início dos pagamentos mensais, que normalmente coincide com o ingresso do beneficiário na universidade.

A partir da data escolhida, o título passa a pagar uma renda mensal durante 5 anos, período médio de duração de um curso de graduação. Essa renda é resultado dos aportes realizados ao longo do tempo e pode ser usada para cobrir mensalidades, materiais ou outras despesas acadêmicas. Durante o período de acumulação, o valor investido cresce com a aplicação de juros e com a correção da inflação, medida pelo IPCA. Mesmo após o início dos pagamentos, as parcelas futuras continuam sendo atualizadas até a data em que forem recebidas.

Os aportes mensais não são obrigatórios, mas são altamente recomendados para manter a disciplina e garantir a construção gradual do valor necessário ao objetivo final.

A taxa de custódia (B3) é isenta para quem mantiver o investimento até o vencimento e receber uma renda mensal de até quatro salários mínimos. Caso esse valor seja ultrapassado, aplica-se uma taxa de 0,10% ao ano apenas sobre o montante excedente. Para quem optar pelo resgate antes da data de início dos pagamentos, a taxa varia conforme o tempo de permanência: 0,50% ao ano até 7 anos, 0,20% entre 7 e 14 anos, e 0,10% acima de 14 anos. No vencimento, não há cobrança.

A tributação segue a tabela regressiva do Imposto de Renda. Assim como no RendA+, cada parcela mensal recebida é composta por uma parte isenta, referente à devolução do valor investido, e uma parte tributável, correspondente aos rendimentos, que sofrem incidência de IR conforme o prazo da aplicação.

O Tesouro Direto também disponibiliza o Tesouro Coletivo, uma funcionalidade que permite organizar campanhas colaborativas para financiar objetivos educacionais. Por meio dessa ferramenta, familiares e amigos podem contribuir com valores acessíveis, tornando o planejamento educacional mais significativo e viável.

Assim como o Tesouro RendA+, o Tesouro Educa+ é um título híbrido voltado ao planejamento financeiro de longo prazo e pode ser uma alternativa interessante em qualquer momento. Embora conte com uma taxa prefixada, seu objetivo não é acompanhar as variações de mercado, mas garantir uma renda estável durante o período de estudos.

Mesmo em um cenário de incertezas sobre a trajetória dos juros, essa característica tende a ter menos peso, já que o título foi desenhado para ser mantido até o vencimento. Com os juros atualmente em patamares elevados, contratar o investimento agora pode resultar em um retorno real mais atrativo, fortalecendo o planejamento educacional.

E aí, já pensou no tesouro direto com uma oportunidade de diversificar sua carteira de renda fixa?

*Estudantes de Ciências Econômicas no Ibmec

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