No meu último texto no Investing.com, comentei sobre as várias vantagens de se investir em portfólios altamente diversificados e atrelados a moedas fortes, como o dólar. Dentre as opções que citei no texto, estão alguns ETFs de liquidez relativamente baixa, como o ETF iShares Core S&P Small-Cap BDR (SA:BIJR39), e algumas pessoas pediram para que eu comentasse sobre essa questão.
Buscarei fazer isso nesse texto, de uma forma um pouco mais breve, porque considero que essa questão é muito interessante. Para entender melhor essa questão, precisamos antes contextualizar o que são ETFs e o que são BDRs. O ETF, sigla para Exchange-traded fund ou fundo negociado em bolsa, nada mais é do que isso: um fundo de investimentos.
Nessa medida, embora eles sejam negociados como ações, na realidade o que está sendo negociado são cotas de fundos, o que implica uma diferença fundamental por um motivo simples. Ao contrário de empresas, os fundos podem simplesmente emitir mais cotas, inclusive porque a oscilação no preço desse ativo não é dada pela oferta e demanda das cotas em si, mas pelos ativos que compõe a carteira.
Conforme o patrimônio do fundo cresce, compra-se mais dos mesmos ativos para manter a proporção da carteira. No caso dos ETFs que citei, que estão atrelados a índices amplos, tratam-se de empresas altamente líquidas: as que compõe o S&P 500, S&P Small Caps, MSCI Emergentes etc. Isso faz com que a liquidez do próprio ETF não seja uma questão tão importante, pois os ativos que são usados para converter cotas em dinheiro são altamente líquidos.
No caso das BDRs, que nada mais são do que títulos lastreados em um ativo no exterior (no caso, EUA), temos um cenário um pouco diferente porque não temos um mercado tão ativo. Isto é, o número de pessoas negociando esses papéis é muito menor, o que acaba gerando vários gaps e dando a impressão de que o ativo é bem menos líquido, logo arriscado, do que parece.
Os BDRs de ETFs que citei no meu artigo anterior, assim como vários outros que são negociados na B3 (SA:B3SA3), contam com o apoio dos famosos “market makers”, que são grandes instituições responsáveis por garantir alguma liquidez para esses ativos. Dessa forma, embora o mercado seja menos líquido, você consegue comprar e vender suas cotas sem maiores problemas pelo preço atual, porém considerando dois pontos absolutamente cruciais.
Primeiro, que ao negociar BDRs de ETFs, você provavelmente estará trabalhando com unidades fracionadas, de modo que uma unidade de determinada BDR não corresponde a uma cota do ETF original. Isto ocorre justamente para dar mais liquidez e facilitar o acesso a investidores não-profissionais a esse mercado. O segundo ponto é que o preço dos BDRs é afetado em tempo real pela oscilação do câmbio.
Sobre a questão do câmbio, sugiro a leitura de um artigo anterior, publicado neste Investing.com.
Pense bem, estamos comprando um título de uma ação negociada em dólar, com um preço que oscila em tempo real, logo a variação do câmbio está embutida na própria BDR. Isso faz com que seus movimentos, em geral, sejam um pouco mais voláteis do que aqueles do índice de referência ou do ETF negociado diretamente em dólar.
O lado bom é que, dessa forma, você não precisa se preocupar em calcular frequentemente o impacto cambial (que, no longo prazo, desde o início do Plano Real, foi positivo para quem investe em dólares).
Ao levarmos esses pontos em consideração, a questão da liquidez de um ETF como o BIJR, ou demais BDRs de ETFs, seria com os fundos negociados em corretora, como os de ações, multimercado, renda fixa etc. Digo isto porque nesses casos, o cálculo do valor atualizado da cota só ocorre no fim do dia, com o fechamento do mercado. Isto é, a liquidez desse tipo de ativo é parecida com a de um BDR como o BIJR39 – para ações ou fundos multi, na verdade é bem pior, com prazos que variam em 30 até mais de 180 dias.
Ao levar em consideração esses pontos, eu continuo acreditando que investir em índices amplos, com a maior parte do peso nos EUA e demais países com economias fortes, além de exposição minoritária em mercados emergentes (do qual o Brasil é menos de 5%), segue sendo a opção mais interessante para a esmagadora maioria dos/as investidores/as – algo que foi exaustivamente comprovado pela comunidade acadêmica.
Espero que esse breve texto tenha colaborado para entender um pouco melhor a lógica por detrás dos investimentos em ETFs de BDRs, que são uma opção muito simples e atraente para investidores comuns. Em especial, considerando seu baixíssimo custo, imenso benefício de diversificação e facilidade de acesso, visto que não requerem criação de conta no exterior ou os custos envolvidos na conversão cambial.