Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - O Brasil deverá colher um recorde de 123,7 milhões de toneladas de soja na temporada 2019/20, com maiores produtividades vistas nos campos em colheita, estimou nesta sexta-feira a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), ao revisar projeções que apontam também uma moagem em máxima histórica no país.
A associação, que inclui as principais companhias globais, como ADM e Bunge, ainda revisou a previsão de exportação de soja do Brasil, maior exportador global, reduzindo-a para 73,5 milhões de toneladas contra 75 milhões de toneladas na estimativa anterior.
A redução reflete o arrefecimento das tensões comerciais entre Estados Unidos e China, que deve beneficiar os norte-americanos frente aos brasileiros neste ano.
As vendas externas de soja do Brasil, por ora, não parecem ser afetadas pelo surto do novo coronavírus no país asiático, maior importador global da oleaginosa, segundo a Abiove.
"No caso da exportação do grão (em 2020), decorre de uma situação de normalização do mercado internacional. O Brasil volta a competir em condições mais normais com EUA, Argentina", declarou o economista-chefe da Abiove, Daniel Furlan Amaral, ao antecipar os números à Reuters.
"A 'trade war' já tem menor intensidade, estamos estimando uma volta da participação dos EUA no mercado internacional."
Questionado sobre eventual impacto nos embarques de soja do coronavírus, que tem causado mortes e interrompido fluxos de mercadorias na China, Amaral disse que por enquanto não receberam "essa preocupação".
"Por enquanto, a questão (a redução na expectativa de exportação) está muito mais centrada na redução das tensões comerciais", destacou.
SAFRA MAIOR, RECEITA EM QUEDA
A projeção de safra, realizada com base em estimativas das associadas, ficou 0,7% maior na comparação com a previsão de 122,8 milhões de toneladas de janeiro, o que representa um aumento de 5 milhões de toneladas ante a projeção revisada para a colheita do ano passado.
Já a exportação brasileira em 2020 cairia ante cerca de 74 milhões de toneladas de 2019, conforme número também revisado pela Abiove nesta sexta-feira. Até janeiro, os embarques do ano passado eram apontados em 72 milhões de toneladas.
A revisão para cima da estimativa de embarques do ano passado reduziu a projeção de estoques iniciais deste ano em mais de 50%, para 1,3 milhão de toneladas.
Já a avaliação as exportações em 2020 está em linha com análise de consultorias sobre o assunto, que por ora apontam a maior presença da soja dos EUA na China como um fator mais importante do que o coronavírus para a redução as exportações brasileiras em 2020.
Com as estimativas atuais, a receita esperada pela Abiove com as exportações de soja em grão estão estimadas agora em 25,7 bilhões de dólares, ante 27 bilhões de dólares previstos em janeiro e 26 bilhões de dólares fechados em 2019.
As exportações do complexo soja, que incluem também farelo e óleo de soja, estão estimadas em 31,6 bilhões de dólares, ante 32,56 bilhões de dólares na projeção de janeiro e contra 32,6 bilhões em 2019.
A soja é o principal produto de exportação do Brasil.
MOAGEM RECORDE
A associação da indústria de soja do Brasil elevou também a previsão de processamento para um recorde de 44,5 milhões de toneladas, ante 44 milhões de toneladas na estimativa de janeiro, o que deverá significar ainda um aumento de 1,1 milhão de toneladas na comparação com 2019.
A entidade ainda elevou a previsão de exportação de farelo de soja do país para 16,2 milhões de toneladas, ante 15,3 milhões de toneladas em janeiro, em meio um maior consumo global, disse o economista.
"Tem aumento do uso da soja para o esmagamento doméstico, ele está reagindo, aumentando a produção, de farelo e óleo, dado o aumento da demanda dos produtos tanto no mercado interno quanto no externo", afirmou, lembrando que as indústrias de carnes têm demandando mais a matéria-prima da ração animal.
No Brasil, os números de processamento também refletem uma demanda maior para a produção de biodiesel.
A projeção da Abiove já considera o aumento da mistura de 11% para 12% de biodiesel no diesel, a partir de março. Durante a maior parte de 2019, o mix do combustível renovável no fóssil do Brasil foi de 10%, com o aumento de 1 ponto ocorrendo a partir de setembro.
Considerando que mais de 70% do biodiesel do Brasil é produzido a partir de óleo de soja, a expectativa é de que um esmagamento de 25 milhões de toneladas da oleaginosa esteja associado à produção do biocombustível em 2020, ante 20,9 milhões em 2019.