SÃO PAULO (Reuters) - O interesse da AES Tietê (SA:GETI4) na aquisição de térmicas que a Petrobras (SA:PETR4) pode colocar à venda dentro de seu plano de desinvestimentos depende das condições da estatal para renovar ou não os atuais contratos de fornecimento de gás a essas usinas, disse nesta quinta-feira o vice-presidente de geração da companhia, Ricardo Cyrino.
"A gente tem que entender como vai ser a equação das termelétricas que já têm PPA (contrato de venda de energia)... se você tiver que trazer Gás Natural Liquefeito (importado, para abastecer as térmicas), o preço pode não caber no PPA", disse Cyrino, em teleconferência sobre resultados trimestrais.
Segundo o executivo, é necessário "olhar caso a caso" os ativos da petroleira, uma vez que as termelétricas operadas pela Petrobras possuem diferentes condições contratuais tanto para a venda da energia quanto para a compra do gás natural que as abastece.
"Cada térmica tem uma condição... então é muito difícil", disse Ciryno, em resposta a um analista que pediu mais detalhes sobre o interesse na eventual aquisição.
As térmicas a gás deverão ser um dos focos da expansão da AES Tietê, junto com usinas renováveis, como parques eólicos e solares.
No próximo leilão A-5 para contratação de novas usinas, agendado pelo governo para fevereiro de 2016, a companhia participará com o projeto de uma termelétrica a GNL em São Paulo com 550 megawatts em potência.
Caso a usina seja viabilizada, a operação seria feita com combustível importado e utilização da estrutura de regaseificação da Petrobras.
Já o presidente-executivo da AES Brasil, Britaldo Soares, adiantou que a empresa deverá inscrever projetos solares em leilões no próximo ano.
O presidente, no entanto, preferiu não tecer maiores comentários sobre o leilão de hidrelétricas existentes que o governo promove em 25 de novembro.
"Estamos acompanhando a evolução", respondeu Soares, nas ocasiões em que foi questionado por analistas sobre a entrada na disputa.
CAIXA PARA NEGÓCIOS
A AES Tietê, que distribui a totalidade dos lucros para os acionistas desde 2006, decidiu postergar os dividendos do terceiro trimestre devido à "situação macroeconômica" e a incertezas sobre a proposta da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para compensar hidrelétricas por perdas de faturamento com a seca.
O presidente, no entanto, também ponderou que o não pagamento dos proventos deixa a empresa preparada para eventuais oportunidades.
"Vamos pesando o que a gente tem olhado e o que a gente tem pela frente, pelo fluxo da caixa da companhia, para se manter em uma posição em que tenhamos uma capacidade de ação num momento adequado", explicou.
Segundo Soares, a AES Tietê não descarta reavaliar a posição sobre os dividendos "tão logo quanto possível", o que também deve depender de negociações da Aneel quanto à compensação pelo déficit de geração hidrelétrica.
A AES Tietê tem interesse principalmente na solução oferecida pela Aneel para apoiar usinas que venderam a produção no mercado livre de energia, e não para distribuidoras, mas acredita que a atual proposta ainda precisa melhorar.
Segundo Soares, a empresa espera que "desenvolvimentos" possam ser realizados durante a tramitação pelo Congresso da Medida Provisória 688, que autoriza o governo federal a propor o apoio às hidrelétricas.
O texto da MP 688 foi aprovado em Comissão Mista formada por senadores e deputados na quarta-feira, e agora deve passar pelo Plenário de ambas as casas legislativas antes de ser convertido em lei.
(Por Luciano Costa)