Por Ana Mano
SÃO PAULO (Reuters) - Os produtores brasileiros de soja estão diante de outro forte ano depois que a seca na Argentina e tensões comerciais internacionais envolvendo os Estados Unidos e a China impulsionaram as perspectivas para a indústria da oleaginosa do país.
O Brasil deve exportar um recorde de 72 milhões de toneladas de soja este ano, ante 68 milhões de toneladas na temporada passada, já que a seca danificou os grãos argentinos e a potencial retaliação da China sobre o protecionismo dos EUA ampliou os prêmios da soja brasileira em relação aos preços em Chicago, disse André Pessôa, sócio-diretor da consultora Agroconsult, em coletiva de imprensa nesta terça-feira.
Os produtores colherão quase 119 milhões de toneladas de soja nesta temporada, com o crescimento dos rendimentos em regiões chave, apesar da falta de chuvas no Sul, que prejudicou a safra do Rio Grande do Sul, disse Pessôa.
"Se o tempo fosse tão perfeito quanto no ano passado, a safra de soja do Brasil teria ultrapassado os 120 milhões de toneladas", disse Pessôa durante evento para apresentar os resultados do Rally da Safra, organizado pela empresa, que começou em janeiro e terminou na semana passada.
"Parte dos prêmios sobre Chicago pagos pela soja do Brasil estão relacionados à Argentina", ele disse.
Há, também, "um aumento no apetite da China pela soja brasileira", relacionado à potencial intensificação de uma guerra comercial opondo o maior importador de soja do mundo e os EUA, que lideram em produção.
"Apesar da possibilidade de maiores tensões, o Brasil e a Argentina não estão em posição de aumentar o fornecimento para a China do dia para a noite. Nem a China está em posição de parar de comprar a soja dos EUA de uma vez", ele disse, referindo-se à forte demanda da indústria de processamento chinesa que não pode ser substituída imediatamente.
No início da temporada, havia preocupações com o fenômeno climático La Niña, disse o analista, acrescentando que as inquietações relacionadas ao clima se atenuaram no decorrer da safra.
"Esse cenário apontava que a safra seria menor, mas eventualmente a produção e os rendimentos superaram as nossas expectativas."
O Brasil, maior exportador de soja do mundo, produziu um recorde de 114,6 milhões de toneladas na safra passada, de acordo com as estimativas da Agroconsult.
Os rendimentos médios do país subiram para uma estimativa de 56,5 sacas por hectare neste ano, ante 55,8 hectares na colheita passada, disse Pessôa.
O tour da Agroconsult passou por 13 dos maiores Estados produtores de grãos brasileiros, correspondendo a 95 por cento da área da soja e 75 por cento da área do milho, disse a empresa.
Outra edição da expedição, focando a segunda safra do milho, começará em maio e terminará em junho.