Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - O plantio de soja no Brasil, maior produtor e exportador global da oleaginosa, deverá aumentar 1,1 milhão de hectares na temporada 2020/21 que começa a ser plantada em setembro, o que resultaria em uma produção recorde de 132,6 milhões de toneladas, avaliaram analistas da Agroconsult ouvidos pela Reuters.
A projeção de produção, que considera uma linha de tendência de produtividade, pode ser ainda maior se o clima colaborar, permitindo um plantio superior ao estimado pela consultoria. Agricultores capitalizados por boas safras anteriores também fecharam vendas antecipadas para 2020/21 como nunca antes visto.
"Tem muita coisa para acontecer, tem possibilidade de continuar subindo... Ainda tem espaço... Por preço e liquidez (do mercado), a rentabilidade faz com que, se eventualmente surgir oportunidade e calendário (janela de plantio), o produtor possa expandir um pouco mais esta área", declarou o analista Adriano Lo Turco.
Por ora, a Agroconsult estima uma área plantada com soja de 37,9 milhões de hectares.
O tamanho da área a ser semeada com soja do Brasil em 2020/21, revelaram os analistas, foi crescendo nos últimos meses à medida que os agricultores foram travando vendas futuras, impulsionados por um dólar acima de 5 reais.
"Nossa estimativa foi aumentando, esse 1,1 milhão de hectares começou lá atrás com 500-600 mil hectares, à medida que a taxa de câmbio foi se desvalorizando, ela (projeção de plantio) foi subindo", comentou Lo Turco.
Caso as projeções atuais se confirmem, o Brasil poderia plantar históricos 37,9 milhões de hectares, alta de 3% na comparação anual, mas colhendo 6,3% a mais que as 124,7 milhões de toneladas projetadas pela Agroconsult para 2019/20, quando a safra do Rio Grande do Sul foi castigada por uma seca que fez o país produzir abaixo do potencial.
As projeções também são baseadas em indicadores de rentabilidade que têm saltado nas última safras.
Em Mato Grosso, principal produtor de soja do Brasil, a rentabilidade na temporada 2018/19 foi de cerca de 800 reais/hectare, subindo para 1.482 reais/ha em 2019/20 e agora está projetada em aproximadamente 1.700 reais/ha em 2020/21.
"Tende a ser acima da margem espetacular de 19/20, claro que depende da produtividade...", disse o analista, lembrando que o cálculo considera um clima normal.
O grande avanço do plantio será no Matopiba (Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia), além de Goiás, Mato Grosso do Sul e São Paulo --neste último, mais pela influência de um sistema de meiosi (rotação) de cultura com cana.
Além disso, o plantio crescerá mais de 2% em Mato Grosso, para mais de 10 milhões de hectares, conforme avaliação do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária.
A consultoria não vê problemas de consumo para esta grande safra, com a China mantendo fortes compras no mercado.
As exportações de soja do Brasil foram estimadas em 80 milhões de toneladas em 2020, após registrarem volumes recordes no primeiro semestre, e podem superar esse patamar em 2021 com firme demanda chinesa.
Além da demanda externa, o consumo interno brasileiro tem sido sustentado pela fome da indústria de carnes por farelo de soja e do setor de biodiesel, por óleo, principal matéria-prima do biocombustível.
MILHO
As avaliações sobre a próxima temporada ocorrem enquanto produtores estão em plena colheita da segunda safra 2019/20 de milho, com os trabalhos avançando bem em agosto após um atraso neste ano, o que explica também uma maior lentidão nas exportações neste início de segundo semestre.
A produção foi estimada em 74,1 milhões de toneladas, ante 76,4 milhões no ano passado, após uma seca ter atingido lavouras no Paraná e Mato Grosso do Sul.
Para a chamada "safrinha" do ano que vem, que responde pela maior parte da produção brasileira do cereal, a projeção é de um aumento de 5% na área plantada, para 13,9 milhões de hectares, com a produção podendo alcançar um recorde de 81,9 milhões de toneladas.
A Agroconsult prevê uma estabilidade no plantio da próxima primeira safra de milho, em 5,1 milhões de hectares, com a produção subindo de 27,1 milhões para 28,4 milhões de toneladas.
"É na segunda safra que aparece o bom momento do milho, onde tem mais contratos para exportação, na qual o produtor tem condições de fazer mais vendas antecipadas", disse o analista, lembrando ainda que o produto tem sido disputado em Mato Grosso pelas indústrias de carnes e de etanol.
Entre fevereiro de 2020 e janeiro de 2021, as exportações brasileiras do cereal são estimadas em 34,6 milhões de toneladas, versus mais de 40 milhões no ciclo anterior.
A produção total de milho do Brasil em 2020/21 poderia subir para históricas 110,3 milhões de toneladas, ante 101,2 milhões em 19/20 e 102,5 milhões em 18/19, segundo dados da Agroconsult.
(Por Roberto Samora)