Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - Produtores de algodão do Brasil estão apresentando nesta semana aos seus maiores clientes internacionais as bases laboratoriais de um sistema de rastreabilidade que será lançado nos próximos meses e que deverá garantir ao importador da pluma segurança sobre a qualidade de origem do produto, um diferencial competitivo, segundo a associação dos cotonicultores brasileiros.
Uma delegação de importadores de China, Bangladesh, Coreia do Sul, Taiwan, Indonésia, Vietnã e Tailândia iniciou nesta segunda-feira, pelo Mato Grosso, uma viagem pelas principais áreas produtoras do país para conhecer fazendas, usinas de beneficiamento e laboratórios de classificação de algodão.
O sistema de rastreamento de fardos será lançado em outubro, durante congresso do setor na Inglaterra, e funcionará plenamente a partir da safra 2016/17, quando os produtores brasileiros esperam ter uma produção maior e também uma oferta mais adequada da pluma, após uma quebra da colheita em 2015/16, devido ao clima irregular.
Em condições climáticas normais, o Brasil, terceiro exportador de algodão do mundo, atrás de Estados Unidos e Índia, vende no exterior cerca de 1 milhão de toneladas da pluma por ano.
"Com o sistema, os importadores vão poder acompanhar (as cargas) onde estiverem e ter certeza que o fardo saiu daqui, isso vai facilitar muitas negociações. O importador vai ter condições de aferir a qualidade, e estaremos um passo à frente da maioria dos mercados", disse à Reuters o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), João Carlos Jacobsen, falando de Sapezal (MT).
Segundo o dirigente da Abrapa, 12 dos maiores compradores de algodão do mundo estão acompanhando a visita, que passará também por localidades de Goiás e Bahia, além de Brasília, onde está sendo concluído o laboratório de referência do setor.
Cerca de 50 milhões de reais foram investidos no laboratório de Brasília e em mais de uma dezena de unidades espalhadas pelo país, recursos que vieram de produtores nacionais e do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA), instituição criada para receber recursos do governo dos EUA, como parte de solução do contencioso contra subsídios norte-americanos vencido pelo Brasil na Organização Internacional do Comércio (OMC).
Segundo Jacobsen, os participantes da viagem pelos polos produtores brasileiros compram anualmente cerca de 750 mil toneladas das cerca de 1 milhão de toneladas da exportação do Brasil.
O executivo disse ainda que uma das maiores preocupações dos importadores tem relação com o índice de fibras curtas do algodão, ainda que o Brasil em sua maioria venda um produto dentro dos padrões exigidos --se a pluma tiver um alto percentual de fibras curtas há prejuízos na fiação.
"Os importadores querem estabilidade no fornecimento e estabilidade na qualidade, principalmente porque temos um concorrente sintético... O novo sistema vai facilitar muito a tomada de decisão e a escolha de quais lotes ele vai comprar", completou Jacobsen, ressaltando que o setor trabalha no desenvolvimento de um esquema de rastreabilidade há cerca de dez anos.
O presidente da Abrapa preferiu não falar sobre eventuais novos negócios já fechados com as delegações estrangeiras, durante a missão.