Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - Dados do Censo Agropecuário 2017 divulgados nesta sexta-feira pelo IBGE mostraram que 15,6% dos agricultores que utilizaram pesticidas não sabem ler e escrever e, destes, 89% declararam não ter recebido qualquer tipo de orientação técnica, o que potencialmente eleva os riscos de contaminação.
Dos produtores alfabetizados que utilizaram os chamados "agrotóxicos", 69,6% possuíam no máximo o ensino fundamental e, entre eles, apenas 30,6% declararam ter recebido orientação técnica a respeito da aplicação do produto, de acordo com nota publicada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O problema do analfabetismo e da falta de orientação desafiam mudanças previstas em um novo marco regulatório sobre classificação de riscos de defensivos agrícolas, que incluem alterações nas rotulagens justamente para minimizar os perigos, com base em padrões internacionais.
Os agricultores são considerados os mais vulneráveis às substâncias, por trabalharem e manipularem os produtos.
"Uma pessoa que não sabe ler e escrever e que não recebeu orientação técnica, em quais condições aplicava esse agrotóxico?", disse o gerente técnico do Censo Agropecuário, Antonio Carlos Florido, em comunicado nesta sexta-feira.
Florido comentou ainda que o mais preocupante é o modo como o pesticida é utilizado. "O problema é o mau uso, a falta de instrução e a falta de fiscalização, não o produto em si", concluiu.
O Brasil --um potência agrícola em grande área tropical em que a incidência de pragas e doenças é mais agressiva-- é importante consumidor de agroquímicos, e o governo tenta atualizar uma lei dos pesticidas com o objetivo de agilizar a oferta produtos mais modernos.
O objetivo, que é criticado por parcela da sociedade que teme aprovações sem estudos completos de novos agroquímicos, é garantir maior competitividade para os agricultores brasileiros, que poderiam ter acesso a produtos mais eficazes para combater pragas e doenças no campo, já utilizados em outros países.
Em relação aos estabelecimentos que declararam utilizar agrotóxicos, 73% tinham menos de 20 hectares de área de lavouras, ou pequenas propriedades.
O número de estabelecimentos que admitiram usar agrotóxicos aumentou 20,4% nos últimos 11 anos, apontou também o Censo Agropecuário.
MECANIZAÇÃO
A mecanização alterou o perfil do trabalho no campo e influenciou a diminuição de mão de obra no setor nos últimos 11 anos, segundo o levantamento do IBGE.
O número de estabelecimentos com tratores aumentou 50% em relação ao último censo, realizado em 2006.
Durante esse mesmo período, o setor agropecuário perdeu cerca de 1,5 milhão de trabalhadores.
O pessoal ocupado nos estabelecimentos agrícolas diminuiu 8,8%, para 15,1 milhões em 2017.
Esse número inclui a perda de 2,2 milhões de trabalhadores na agricultura familiar e aumento de 703 mil na agricultura não familiar, disse o IBGE.
Além de tratores, aumentou também o número de estabelecimentos com outras máquinas, como semeadeiras ou plantadeiras, colheitadeiras, adubadeiras ou distribuidoras de calcário, e também meios de transporte como caminhões, motocicletas e aviões.
De acordo com o gerente técnico do Censo Agropecuário, o processo de mecanização é algo crescente e contínuo.
"Quanto mais automação, menos gente na produção. Isso tem acontecido em todos os setores da economia, não é algo restrito ao setor agropecuário", afirmou.
O trabalho braçal vem sendo substituído pelas máquinas agrícolas, cenário que, de acordo com Florido, obriga os trabalhadores do campo a buscar qualificação para operar a maquinária.
De acordo com o gerente técnico, uma colheitadeira de cana substitui em média 100 pessoas, por exemplo.