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ANÁLISE-Exportação de petróleo do Brasil saltará em 2017, enfraquecendo cortes da Opep

Publicado 31.03.2017, 15:17
ANÁLISE-Exportação de petróleo do Brasil saltará em 2017, enfraquecendo cortes da Opep
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Por Marta Nogueira e Marcelo Teixeira

RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - O Brasil está no caminho de aumentar acentuadamente suas exportações de petróleo neste ano, uma vez que grandes investimentos do passado estão gerando nova produção e a demanda externa pelo óleo mais leve do pré-sal ganha novos compradores, especialmente na China e na Índia.

A produção do país neste ano deverá crescer em 210 mil barris por dia, um aumento inferior apenas ao dos Estados Unidos entre os produtores de fora da Organização dos Países Exportadores de Petróleo, com a oferta adicional dificultando o esforço liderado pela Opep para elevar os preços por meio de cortes de produção.

As altas na exportação brasileira devem continuar no futuro, à medida que companhias como a Royal Dutch Shell preparam-se para explorar algumas das maiores descobertas dos últimos anos no litoral do oceano Atlântico.

As exportações de petróleo do Brasil em janeiro e fevereiro subiram 65 por cento, ante o mesmo período do ano anterior, para cerca de 86,4 milhões de barris, segundo dados do governo obtidos pela Reuters. Os volumes mensais foram recordes.

A consultoria Wood Mackenzie estima que as exportações deste ano alcançarão quase 1 milhão de barris por dia, ante 798 mil barris por dia no ano passado.

Anos de grandes investimentos que levaram a estatal Petrobras (SA:PETR4) a se tornar a petroleira mais endividada do mundo estão começando a dar retornos. O país espera usar suas vendas de petróleo para ajudar a tirar sua economia de uma recessão de dois anos.

As exportações estão crescendo juntamente com a produção da companhia de petróleos leves, disse à Reuters o gerente-executivo de Marketing e Comercialização da Petrobras, Guilherme França.

"Os óleos do pré-sal são mais leves do que nós originalmente produzíamos... Hoje a gente tem uma demanda maior do que o produto", disse França.

O tipo de óleo extraído de águas ultraprofundas, nos campos do pré-sal, atende aos requisitos da maioria das refinarias modernas, dizem analistas.

"Há forte demanda atualmente pelo tipo de petróleo que o Brasil está produzindo, o 'medium sweet'. Os Estados Unidos, a China, a Coreia, a Índia, são todos compradores deste tipo de óleo devido aos mais novos padrões para reduzir o teor de enxofre nos combustíveis", afirmou Esa Ramasamy, analista da S&P Global Platts.

Juntos, China e Índia representam cerca de 70 por cento das vendas de petróleo da Petrobras no exterior.

França, da Petrobras, confirmou à Reuters que uma parte do petróleo indo para a China está ligada ao pagamento de dívida com o Banco de Desenvolvimento Chinês. Os chineses fizeram empréstimos de 15 bilhões de dólares à estatal nos últimos anos.

Segundo os acordos com o banco, a petroleira deverá enviar até 300 mil bpd para quatro empresas chinesas: China National United Oil Corporation, China Zhenhua Oil, Chemchina Petrochemical e Unipec Asia, uma subsidiária da Sinopec.

As vendas para a China neste ano até fevereiro totalizaram 40,8 milhões de barris, alta de 125 por cento ante o mesmo período de 2016 e mais de dez vezes as exportações do Brasil para o país há cinco anos.

Nos dois primeiros meses deste ano, o Brasil vendeu 10,4 milhões de barris de petróleo à Índia, metade do total que exportou para o país durante todo o ano de 2016, mostram dados do governo.

França disse que as exportações de petróleo só da Petrobras subiram para 420 mil barris por dia em 2016 e poderão alcançar 450 mil barris/dia neste ano. Se atingir as metas futuras de produção, a companhia poderia exportar até 750 mil barris por dia em 2020, disse ele.

ACESSO A MERCADOS

O secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia, Márcio Félix, destacou ainda o fato de grandes multinacionais produzirem no pré-sal, o que facilita o acesso do petróleo a mercados internacionais.

"O Brasil começa a ser exportador e, para qualquer país exportador, é muito importante o acesso aos mercados. Como a gente tem empresas operando no Brasil em consórcios, que têm mercados seja na Europa, seja na Ásia, Estados Unidos... nosso óleo acaba tendo acesso a um mercado privilegiado", disse Félix.

Ramasamy, da S&P Global Platts, ressaltou que 65 por cento da produção do Brasil é de petróleo médio-leve e que a maior parte da nova produção do país será do mesmo tipo.

A Petrobras produziu 2,14 milhões de barris por dia em 2016 e almeja 2,77 milhões de barris por dia até 2021. A companhia, que está tentando reduzir a dívida de cerca de 100 bilhões de dólares, está colocando todos seus esforços na camada altamente produtiva do pré-sal.

A Shell, agora a segunda maior produtora no Brasil, atrás apenas da Petrobras, está bombeando cerca de 295 mil barris por dia e quer quadruplicar esse volume em três anos. A companhia é parte de um consórcio que irá explorar o gigante campo de Libra, junto com a Petrobras, CNOOC, Total e CNPC.

Dados de embarques de março mostram que a PetroChina está levando um navio-tanque de 130 mil toneladas do Brasil à China. A operadora de commodities Vitol também tem dois navios-tanque carregando 260 mil toneladas de petróleo brasileiro, e a Shell e a Repsol (MC:REP) têm 560 mil toneladas, também a caminho da China.

A analista da Wood Mackenzie, Ixchel Castro, disse que as exportações também têm sido impulsionadas pelo consumo doméstico mais fraco no país, decorrente da recessão mais acentuada já registrada.

"O processamento de petróleo caiu, mostrando níveis mais próximos de 71-72 por cento, em comparação com acima de 80 por cento no início do ano passado", disse Castro.

Assim, uma recuperação econômica, que a maioria dos analistas diz que não será muito vigorosa no início, poderia tomar parte dessa produção adicional do mercado de exportação.

(Por Marcelo Teixeira e Marta Nogueira; com reportagem adicional de Luciano Costa)

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