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BC reforça política monetária apertada ao piorar cenário de inflação

Publicado 23.12.2014, 13:42
© Reuters. Sede do Banco Central do Brasil em Brasília.

Por Patrícia Duarte e Luciana Otoni

SÃO PAULO/BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central reforçou nesta terça-feira que a política monetária continuará apertada por algum tempo, ao piorar seus cenários de inflação para este e o próximo ano e ver que em 2016 ela ainda deverá ficar acima do centro da meta oficial.

O recado veio também ao deixar de lado a palavra "parcimônia", que caracterizou a decisão de elevar o juro básico em 0,50 ponto percentual no início do mês e fez com que parte dos especialistas acreditasse, naquele momento, que o BC poderia desacelerar o passo em breve.

A autoridade monetária também reduziu sua perspectiva de expansão da economia brasileira, não enxergando recuperação mais consistente no curto prazo.

Segundo o Relatório Trimestral de Inflação do BC divulgado nesta manhã, a inflação medida pelo IPCA subirá 6,4 por cento neste ano pelo cenário de referência, acima dos 6,3 por cento previstos anteriormente.

Para 2015, o BC vê agora alta de 6,1 por cento do IPCA, sobre estimativa anterior de 5,8 por cento. Em 2016, os preços devem subir 5 por cento.

A meta de inflação é de 4,5 por cento pelo IPCA, com margem de dois pontos percentuais para mais ou menos. O indicador tem permanecido acima do teto em 12 meses, como em novembro, quando atingiu 6,56 por cento.

"Ele (BC) deu o tom um pouco mais agressivo para política monetária", avaliou a economista e sócia da consultoria Tendências, Alessandra Ribeiro, que vê que a taxa básica de juros subindo a 12,50 por cento, acima dos 12,25 por cento que ela esperava até então.

Para conter a inflação, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC deu início a um novo ciclo de aperto monetário em outubro, quando elevou a Selic em 0,25 ponto percentual, para 11,25 por cento ao ano. No começo de dezembro, o Copom acelerou o aperto, aumentando o juro em 0,50 ponto, para 11,75 por cento.

No Relatório de Inflação, o BC destacou que, "em momentos como o atual, a política monetária deve se manter especialmente vigilante, de modo a minimizar riscos de que níveis elevados de inflação... persistam no horizonte relevante para a política monetária".

"Nesse sentido, o comitê irá fazer o que for necessário para que no próximo ano a inflação entre em longo período de declínio, que a levará à meta de 4,5 por cento em 2016", acrescentou a autoridade monetária.

No relatório, o BC informou ainda que "não descarta" a inflação no curto prazo subindo mais e que deve permanecer elevada em 2015, mas também vê que no próximo ano ela entrará "em longo período de declínio".

O presidente do BC, Alexandre Tombini, já afirmou que a inflação no país atingirá seu pico no primeiro trimestre de 2015. Segundo ele, o cenário mais provável é de que a inflação inicie processo de declínio no segundo trimestre do ano que vem e retorne à trajetória de convergência ao centro da meta até o fim de 2016.

No cenário de referência do Relatório de Inflação, o BC considerou o dólar constante a 2,55 reais e a Selic no patamar atual de 11,75 por cento.

Ainda no cenário de referência, a probabilidade estimada pelo BC de a inflação ultrapassar o limite superior do intervalo de tolerância da meta se situa em torno de 37 por cento em 2015, acima dos 31 por cento no documento anterior, e de 15 por cento em 2016.

SEM "PARCIMÔNIA"

O BC repetiu ainda que a inflação continua elevada por causa do câmbio e dos preços administrados. O dólar acumulou alta de quase 15 por cento sobre o real entre setembro e novembro. Na semana passada, a moeda norte-americana se aproximou de 2,80 reais durante os negócios, maior patamar em quase dez anos.

Em suas avaliações sobre o cenário de inflação no relatório divulgado nesta manhã, o BC não usou mais a palavra "parcimônia", como o fez para justificar a alta de 0,50 ponto na Selic no início deste mês. A palavra aparece apenas no anexo do documento, que reproduz a ata da última reunião do Copom.

O diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton, disse que a mensagem atual da política monetária não contempla mais a palavra "parcimônia".

"Parcimônia é uma palavra código... Ela cumpriu o papel esperado (na reunião do Copom de dezembro)", afirmou o diretor, acrescentando que "hoje a mensagem é outra".

Tombini, em algumas aparições feitas nas últimas semanas, também já não usava a palavra, o que para boa parte dos especialistas era uma indicação de que o BC manteria o passo da política monetária em janeiro, quando o Copom reúne-se novamente.

"O BC trouxe uma mensagem um pouco mais dura. O relatório tirou a palavra parcimônia, então fica difícil imaginar a alta da Selic voltando para 0,25 ponto (em janeiro)... A evolução do cenário vai determinar o caminho restante", afirmou o economista sênior do Espírito Santo Investment Bank, Flavio Serrano, que vê a Selic entre 12,50 e 13 por cento no fim do ciclo de aperto monetário.

A última pesquisa semanal Focus do BC com economistas de instituições financeiras mostrou que a expectativa era de alta da Selic 0,50 ponto no mês que vem e elevação de 0,25 ponto em março, com o juro encerrando o ciclo a 12,50 por cento ao ano.

No Relatório de Inflação, o BC voltou a reforçar a importância da política fiscal mais restritiva no combate à alta dos preços como um reforço à ação plena da alta dos juros. Mesmo assim, o diretor do BC disse que "são as ações de política monetária que vão trazer a inflação para baixo".

PIB MENOR

No relatório de inflação, o BC reduziu sua projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2014 a 0,2 por cento, ante 0,7 por cento calculados até então. No curto prazo, o cenário não melhora muito, com a economia crescendo apenas 0,6 por cento em quatro trimestres até o terceiro trimestre de 2015.

Para este ano, a piora nas contas do BC veio de praticamente todas as categorias.

Para o setor de serviços, a projeção agora é de crescimento de 0,7 por cento, frente a 1,2 por cento antes. Já a produção agropecuária deverá crescer 1,4 por cento, contra 2,3 por cento, enquanto a alta projetada para o consumo das família foi reduzida a 1 por cento, ante 1,6 por cento.

Para a indústria, a queda esperada passou a ser de 1,4 por cento, frente à retração de 1,6 por cento. O BC vê que o consumo do governo crescerá um pouco mais neste ano, com avanço de 1,8 por cento, sobre 1,7 por cento.

© Reuters. Sede do Banco Central do Brasil em Brasília.

Já a projeção para a formação bruta de capital fixo (medida de investimento) piorou, com retração de 7,1 por cento neste ano (queda de 6,5 por cento antes).

(Reportagem adicional de Alonso Soto, em Brasília, e Flavia Bohone, em São Paulo)

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