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Dólar abaixo de R$ 3,50: a nova dor de cabeça da indústria

Publicado 10.05.2016, 16:56
Atualizado 10.05.2016, 17:00
© Reuters.  Dólar abaixo de R$ 3,50: a nova dor de cabeça da indústria
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SÃO PAULO – Nossos avós já diziam que tudo que é demais atrapalha: inclusive o otimismo. Depois do tumulto desta terça-feira (9), quando o presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), anulou por algumas horas o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, o Brasil está de novo a poucas horas da votação no Senado que deve afastá-la por até 180 dias. E isso já foi o bastante para investidores festejarem com uma chuva de dólares no mercado, fazendo a moeda norte-americana ser negociada abaixo de R$ 3,50 e dando calafrios na indústria.

“Quando o dólar cai abaixo de R$ 3,50, acende a luz amarela no nosso painel”, resume o diretor do Derex/Fiesp (Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Thomaz Zanotto. “É verdade que o câmbio é flutuante, mas ele não pode ser desconsiderado”, completa, em referência a um dos pilares da política econômica implantada desde o lançamento do Plano Real, em 1994.

O modo mais simples de entender os efeitos do dólar sobre investidores e industriais é imaginar que se encontram em lados opostos de uma gangorra. Quando o pessimismo do mercado pesa sobre o câmbio, os investidores começam a ir embora do país. Como a língua universal dos investimentos é o dólar (o real é apenas um modesto dialeto nesse mundo) os investidores convertem seus recursos em dólares para ir embora. Isso aumenta a demanda pela moeda norte-americana e faz com que o dólar suba.

O efeito colateral positivo desse fenômeno é que o dólar caro ajuda as indústrias brasileiras a exportar mais. Imagine que um produto custe R$ 100. Com o dólar a R$ 2, a empresa o venderia no mercado internacional por US$ 50. Mas se o câmbio dobra para R$ 4, o preço de venda cai para US$ 25, mesmo custando os mesmos R$ 100 para ser fabricado por aqui.

Porto de saída

Foi justamente isso que começou a acontecer nos últimos meses. Diante da anemia do mercado interno, que amarga o segundo ano consecutivo de recessão, as empresas começaram a apostar cada vez mais nas exportações. A indústria pegou uma carona no pessimismo do mercado: enquanto os investidores remetiam seus dólares para as matrizes e outros mercados mais confiáveis, os industriais remetiam seus produtos a um dólar mais alto.

Não é por acaso que, nos últimos meses, a única notícia positiva da economia era o superávit comercial. Até a primeira semana de maio, o saldo da balança comercial está positivo em US$ 14,5 bilhões. Zanotto, do Derex/Fiesp, chama a atenção ainda para outro dado: com o real desvalorizado, os produtos brasileiros tornaram-se mais competitivas inclusive em relação aos feitos pelas mesmas empresas em outros países. Com isso, as matrizes e unidades de multinacionais passam a comprar das filiais brasileiras, a fim de manter ou baratear seus custos.

É a chamada exportação intrafirmas, que responde por 40% das exportações brasileiras e é a principal responsável por reduzir nosso déficit comercial com os Estados Unidos, por exemplo. “Todos os manufaturados se beneficiam com o dólar alto”, diz Zanotto.

É por isso que, neste momento, os industriais estão apreensivos com a provável mudança de governo. Se, por um lado, a saída de Dilma e a posse de Michel Temer tende a representar a volta a medidas ortodoxas na economia, como o rigor fiscal, por outro, o otimismo dos investidores do mercado financeiro, capaz de aportar bilhões de dólares em poucos meses, joga uma sombra sobre o câmbio – e as vendas no mercado externo. “As siderúrgicas, por exemplo, estão de cabelo em pé com a possibilidade de o dólar cair para R$ 3,40”, diz o diretor do Derex/Fiesp.

Reformas

Há muitas contas na mesa, mas os economistas da Fiesp estimam que, no atual ritmo, um nível adequado de câmbio seria R$ 3,70. Para o presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), José Augusto de Castro, o país só conseguirá conciliar dólar barato com exportações fortes se realmente encarar seu problema fundamental: o país não oferece condições adequadas para as empresas competirem no mercado global.

“Só conseguiremos esquecer o câmbio, quando fizermos as reformas”, define Castro. Nesse pacote, entram desde pontos diretamente relacionados à produção, como a melhoria da infraestrutura logística, os incentivos à modernização de cadeias produtivas, a racionalização tributária e a reforma trabalhista. Também ajudaria se o novo governo também enxugasse o Estado, a ponto de não precisar recorrer mais a juros tão altos para financiar suas dívidas.

Voltemos ao exemplo do produto que custa R$ 100 para ser fabricado no Brasil e pode ser vendido tanto a US$ 50, quanto a US$ 25, dependendo da taxa de câmbio. Imagine, agora, que, destes R$ 100, a empresa paga 30% de impostos, incorpora custos de logística mais altos que a concorrência, uma folha de pagamento mais cara e não consegue, ainda, investir em equipamentos que modernizem sua produção. Se tudo isso fosse feito, a empresa poderia colocar o mesmo produto no mercado a R$ 50. O que significa, a esta altura, que tanto faz se a taxa de câmbio estará a R$ 1, R$ 2, R$ 3 por dólar... o produto conseguiria chegar aos consumidores lá fora a preços competitivos.

“Somente se o governo tomar medidas para reduzir os custos da indústria poderemos exportar sem depender do câmbio”, explica Castro. “Neste momento, o dólar deixará de ser fundamental para nossa competitividade.” Até lá, toda vez que um investidor aplicar um dólar no mercado de capitais do país, um exportador estará reclamando de que perdeu um cliente lá fora.

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