SÃO PAULO (Reuters) - As chuvas na região Sul do Brasil estão tendo efeitos distintos sobre as safras de trigo do Paraná e Rio Grande do Sul, os dois maiores produtores do cereal do país, segundo relatos de órgãos técnicos dos Estados, que apontam um ritmo avançado no plantio em um Estado e atraso em outro.
No Paraná, maior Estado produtor de trigo, o plantio do cereal alcançou 65 por cento da área estimada para esta safra até 22 de maio, avançando em ritmo superior ao dos anos anteriores favorecido pelas chuvas em boa medida, disse o Departamento de Economia Rural (Deral) nesta quinta-feira.
O Paraná espera uma geada entre o fim desta semana e o início da próxima, mas não há riscos para as lavouras, uma vez que o trigo ainda está em desenvolvimento vegetativo. Dessa forma, a safra poderá até ser beneficiada pelo fenômeno climático, disse o coordenador de Estatística do Deral, Carlos Hugo Godinho.
"Ela pega num momento bom ainda, o trigo está todo em desenvolvimento vegetativo, então não deve ter problema com isso. O trigo nessa fase é bastante tolerante, pode até ser benéfico porque a planta pode ter mais vigor", disse Godinho.
A produção da safra 2016/17 foi estimada pelo Deral em 3,11 milhões de toneladas, volume 11 por cento menor do que o produzido na safra passada, puxado pela redução na área de plantio.
O Deral revisou para baixo sua estimativa para a área de plantio de trigo, para 992 mil hectares, área 10 por cento menor do que a plantada na safra passada. No último relatório, o órgão estimava área 8 por cento menor do que na safra passada.
Segundo Godinho, essa redução já era esperada de maneira geral e é apenas um ajuste, podendo ser revisada novamente no mês que vem. O técnico estima que, após a finalização do plantio, a área total ficará entre 10 e 15 por cento menor do que a da safra passada.
Produtores continuam receosos em razão dos baixos preços do trigo. Segundo Godinho, havia uma esperança de que a recente alta no dólar favorecesse os produtores brasileiros do cereal, mas o trigo não reagiu à movimentação do câmbio.
RIO GRANDE DO SUL
No Rio Grande do Sul, a alta umidade do solo têm atrapalhado o plantio de trigo no norte do Estado, onde estão concentradas importantes áreas produtoras.
Segundo a Emater/RS, o plantio alcançou apenas 3 por cento da área total estimada, ante média de 4 por cento nos últimos anos.
"As áreas implantadas apresentam até o momento boa emergência, porém expressam sintomas de clorose (pouca fotossíntese), devido à baixa luminosidade", disse o órgão em nota publicada nesta quinta-feira.
A safra de trigo 2017 do Rio Grande do Sul foi estimada pela Emater em 1,76 milhão de toneladas, volume 26,71 por cento menor do que o produzido na safra passada.
Essa diferença se explica pela boa produtividade obtida no ano passado, de 3,132 kg/ha. Para a atual safra, o Emater estima produtividade média de 2.420 kg/ha.
A área de plantio também deverá ser menor, estimada em 727,7 mil hectares, 6,49 por cento a menos do que na safra passada. Assim como no Paraná, os baixos preços do cereal contribuíram para a redução da área de plantio, além dos elevados custos de produção, segundo o Emater.
(Por Laís Martins)