Rubén Caramazana.
Cidade do Vaticano, 11 mar (EFE).- O papa Francisco viaja menos que seus antecessores, mas suas saídas do Vaticano foram simbólicas, como a ida ao Rio de Janeiro para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), sua primeira e única viagem até o momento para fora da Itália, e à ilha de Lampedusa, porta de entrada à Europa da imigração africana.
A presença papal na JMJ já estava prevista desde o pontificado de Bento XVI, apesar de Francisco ter dito que esta jornada foi "um grande presente" para ele, especialmente por ter nascido em um país da América Latina.
O pontífice fez no Brasil um apelo à igreja para que seja agente de uma mudança social por "um novo mundo", embora tenha evitado os temas mais delicados, como o aborto, os abusos a menores e o casamento homossexual.
Apesar de o evento ter contado com 500 mil inscritos, mais de 3,5 milhões de peregrinos, jovens em sua maioria, chegaram de todas as partes do mundo à capital fluminense. Poucos dias depois de sua escolha, o ainda hoje bispo auxiliar de Buenos Aires, Dom Eduardo García, avisou ao mundo: "Bergoglio não gosta de viajar".
O religioso, companheiro de missão e amigo do pontífice (ex-bispo titular de Buenos Aires) de muitos anos, afirmou que Francisco seria um papa que faria a igreja chegar "naquelas periferias existenciais no mundo onde o Evangelho não está presente".
Longe de buscar grande destaque midiático em países com um catolicismo assentado, Francisco carregou de simbolismo seus poucos e discretos deslocamentos, em algumas ocasiões com pouca repercussão devido à ausência de grandes atos.
Assim, poucos dias antes da JMJ, Francisco saiu pela primeira vez do Vaticano para uma visita inesperada à ilha de Lampedusa, o ponto mais meridional da Itália e onde entram embarcações carregadas de imigrantes ilegais, em muitas ocasiões com um final trágico.
"A cultura do bem-estar, que nos leva a pensar em nós mesmos, nos torna insensíveis aos gritos dos outros, nos faz viver como se fôssemos bolhas de sabão: estas são bonitas, mas não são nada, são pura ilusão do fútil, do provisório. Essa cultura do bem-estar leva à indiferença a respeito dos outros; antes, leva à globalização da indiferença", disse em uma homilia do ano passado no mesmo dia em que 166 pessoas chegaram a bordo de um barco à costa da ilha italiana.
Em setembro de 2013, o papa realizou uma segunda viagem, desta vez a Cagliari, capital de Sardenha, região mais castigada pelo drama do desemprego na Itália. Durante a visita, o pontífice atacou com dureza o sistema econômico mundial e seus valores.
"Este não é um problema unicamente da Sardenha - mas aqui é grave - não é um problema só da Itália ou de alguns países da Europa, mas é a consequência de uma escolha econômica que leva a esta tragédia; de um sistema econômico que tem no centro um ídolo, que se chama dinheiro", declarou, depois de se reunir com um grupo de desempregados.
Em sua última viagem apostólica, também na Itália, Francisco visitou Assis, berço de São Francisco. Lá se reuniu com milhares de religiosos aos quais pediu estar com os pobres e que a igreja se livre de tudo o que é mundano.
Lá, voltou a falar ao mundo do seu desejo de criar uma igreja "pobre para os pobres", da mesma forma que fez o santo do qual se inspirou para escolher seu nome como pontífice.
A próxima viagem de Francisco será à Terra Santa entre 25 e 26 de maio. A data coincide com o 50º aniversário da visita do papa Paulo VI, que na ocasião se reuniu com o patriarca ortodoxo Atenágoras.
Esta visita, a única planejada para 2014, conta também com o simbolismo que marcou suas viagens, ao levar associada uma mensagem de irmandade com outras religiões que se cruzam em Jerusalém, cidade onde confluem cristãos, muçulmanos e judeus, as três grandes confissões monoteístas do mundo.