Por Bruno Federowski
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar subiu mais de 1 por cento nesta quarta-feira e fechou no patamar de 2,35 reais pela primeira vez desde meados de março após o Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, sugerir que o ritmo de alta dos juros será mais intenso do que o esperado.
Contudo, parte do mercado acredita que o movimento desta sessão foi exagerado, uma vez que o Fed também reiterou sua promessa de manter os juros perto de zero após terminar seu programa de compra de títulos.
A moeda norte-americana subiu 1,25 por cento, a 2,3576 reais na venda, maior patamar de fechamento desde 13 de março, quando terminou a 2,3615 reais. Segundo dados da BM&F, o giro ficou em torno de 1,2 bilhão de dólares.
"Eu suspeito que esse movimento é mais uma vontade do mercado de ficar comprado em dólares do que vontade do Fed de aumentar juros", afirmou o economista da 4Cast Pedro Tuesta.
Os integrantes do Fed agora estimam em média que os juros básicos terminem 2015 em 1,375 por cento, comparado aos 1,125 por cento previstos na reunião anterior. Para o final de 2016, a projeção média subiu para 2,875 por cento em relação aos 2,50 por cento anteriores.
As projeções levaram investidores a apostar em um aperto monetário mais intenso nos EUA, o que poderia atrair à maior economia do mundo recursos atualmente aplicados em outros mercados. Contra o euro, o dólar atingiu o maior nível desde julho de 2013, arrastando consigo o mercado cambial brasileiro.
A disparada do dólar nos mercados internacionais ocorreu apesar de o Fed deixar no comunicado a expressão que sinaliza a manutenção dos juros perto de zero por um "horizonte relevante". Muitos investidores esperavam que o BC dos EUA retirasse essa expressão do documento.
Para um importante membro da equipe econômica do governo brasileiro, o comunicado do Fed não trouxe grandes mudanças, mantendo, assim, a visão de que os juros na maior economia do mundo subirão apenas no final do primeiro semestre de 2015.
"Ainda deve haver reação nos mercados (no curto prazo), mas como o comunicado do Fed foi claro, acredito que (o mercado) vai se acomodar", afirmou a fonte, sob condição de anonimato, citando a referência às taxas de juros perto de zero. A decisão do Fed "reduz um pouco espaço para especulação", acrescentou a fonte.
No Brasil, a divulgação da última pesquisa Ibope de intenção de voto para a eleição presidencial teve pouco impacto no mercado de câmbio nesta sessão.
Na terça-feira, o dólar havia fechado em baixa em parte devido à expectativa de que a presidente Dilma Rousseff (PT), cujas políticas são criticadas pelo mercado, perderia fôlego na corrida presidencial. Após o fechamento do mercado, o Ibope confirmou que Dilma perdeu alguns pontos de intenção de voto em um esperado segundo turno das eleições, embora continuasse empatada tecnicamente com Marina Silva (PSB).
"Foi ventilado que Marina se recuperaria um pouco em relação à última pesquisa e isso aconteceu mesmo", disse o superintendente de derivativos de uma gestora de recursos internacional.
A alta recente do dólar ante o real alimentou expectativas de que o BC intensifique a intervenção no câmbio via leilões de swaps para rolagem.
Por enquanto, a autoridade monetária continuou vendendo a oferta de até 6 mil swaps, que equivalem a venda futura de dólares, para rolagem do lote de outubro. Ao todo, o BC já rolou cerca de 35 por cento do lote total, que corresponde a 6,677 bilhões de dólares.
O BC também vendeu a oferta total de até 4 mil swaps pelas atuações diárias. Foram vendidos 3 mil contratos para 1º de junho e 1 mil para 1º de setembro de 2015, com volume equivalente a 198,2 milhões de dólares.
(Reportagem adicional de Patrícia Duarte)