Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - Um atraso no início do período de chuvas na região das hidrelétricas do Brasil pode levar as contas de luz a continuarem com cobranças adicionais em dezembro, geradas pelo acionamento das chamadas bandeiras tarifárias, disseram especialistas à Reuters nesta segunda-feira.
Os lagos das usinas hídricas, principal fonte de energia no país, costumam receber mais precipitações entre novembro e abril, mas uma hidrologia bastante desfavorável em outubro tem gerado expectativas negativas para a reta final do ano.
As chuvas até o momento neste mês representaram apenas 59% da média de longo prazo para o Sudeste, onde concentram-se os maiores reservatórios, mostraram dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) nesta segunda-feira.
"Está bem atrasado o início do 'período úmido'. Em outubro geralmente já é um mês em que chuvas começam a acontecer, e não verificamos isso. Está fechando como terceiro pior outubro da história, atrás só de 1954 e 1955, que fazem parte do chamado 'período crítico' no histórico desde 1931", disse o presidente da Bolt Energias, Gustavo Ayala.
O cenário poderá levar à manutenção de cobranças extras nas tarifas elétricas em dezembro, mês que no ano passado teve bandeira verde, patamar que não gera custos adicionais.
Para novembro, o mecanismo tarifário ficará no patamar vermelho nível 1, que gera custo extra de 4,169 reais para cada 100 quilowatts-hora consumidos, ante bandeira amarela em outubro deste ano e em novembro de 2018.
"Acreditamos que haverá uma recuperação, mas será bem tardia... a bandeira tarifária pode ficar em dezembro entre o patamar vermelho nível 1 e amarela, vai ficar no limiar. Vai depender um pouco de como vai ser o comportamento (das chuvas) na segunda quinzena de novembro", disse o diretor comercial da Energética Comercializadora, Laudenir Pegorini.
O recente clima seco tem feito com que os reservatórios hidrelétricos no Sudeste percam entre 0,3 e 0,4 ponto percentual em armazenamento por dia, um ritmo bastante significativo, disse o diretor de Gestão de Energia da Esfera Energia, Luiz Fernando Lorey.
"Outubro é sempre uma incógnita, por ser transição de período. Mas agora já se configura um outubro bem ruim e para novembro ainda não há sinais claros de que vai 'molhar', de que vai ter chuva, pelo menos nos próximos 15 dias está bem ruim", afirmou.
Com o tempo bastante seco, as primeiras chuvas significativas que caírem na região das hidrelétricas deverão primeiro tornar o solo mais úmido, com o enchimento dos reservatórios demorando um pouco mais, disse a gerente de Estudos e Pesquisa da empresa de inteligência em energia MegaWhat, Juliana Chade.
"Os reservatórios devem começar a se elevar a partir de fevereiro, mais para fevereiro e março", afirmou.
Ela ressaltou, no entanto, que a situação não gera riscos de oferta de energia, apesar do possível rebatimento em custos por meio das bandeiras tarifárias.
"Em anos anteriores já tivemos afluências ainda menores e não houve esse risco, então acredito que não tenha nenhum risco de abastecimento", acrescentou.
Ainda assim, os reservatórios hidrelétricos do Sudeste poderiam fechar dezembro com cerca de 20,6% da capacidade se não houver mudanças no atual cenário para as chuvas, segundo projeções da CCEE, o que superaria os 22,5% tocados em 2017, considerado pior ano do histórico em termos de armazenamento.