Por Camila Moreira e Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - A inédita bandeira vermelha nível 2 adotada nas contas de luz do Brasil em outubro pode responder por quase metade do IPCA do mês, mas ainda assim a inflação deve terminar 2017 fora da meta oficial.
Especialistas consultados pela Reuters concordam que os custos maiores com eletricidade devido a chuvas fracas na região das hidrelétricas, principal fonte de energia do Brasil, tiraram o viés de baixa das projeções, mas não ameaçam o quadro de inflação benigna.
"Por mais que outubro venha pressionado, existe uma margem bastante gorda para o governo ter espaço para fazer ajustes nos preços de administrados", afirmou o analista de inflação da Tendências Consultoria, Marcio Milan.
"Nosso número tinha viés de baixa, mas a bandeira vermelha tira isso. Se não fosse ela, poderíamos ajustar nossa projeção de alta do IPCA no ano de 3,1 por cento para abaixo de 3 por cento", completou.
Nas contas da Tendências, a tarifa de eletricidade deve apresentar alta de 6,5 por cento em outubro, com impacto de 0,23 ponto percentual no IPCA do mês, cuja estimativa é de um avanço de 0,58 por cento em outubro.
Criadas para sinalizar aos clientes a oferta de energia, as bandeiras tarifárias elevam custos em cenários de menor geração, mas o segundo patamar da bandeira vermelha, de valor mais elevado, ainda não havia sido acionado desde que o mecanismo foi lançado em 2015.
Nesse nível a bandeira tarifária eleva os custos para os consumidores em 3,50 reais a cada 100 kilowatts-hora em eletricidade.
A situação das chuvas oscilou bastante ao longo do ano, mas em geral os especialistas não alteraram suas perspectivas para a inflação após o anúncio pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), mantendo-as em torno do piso da meta ou mesmo abaixo dele.
"Outubro ficou mais pressionado, mas nossa projeção para o IPCA no ano de 2,9 por cento não mudou. Estamos em um momento em que a inflação tem sistematicamente surpreendido para baixo", disse o economista da LCA Consultoria Econômica, Fabio Romão, que calcula alta da energia elétrica de 3,13 por cento em outubro e impacto de 0,11 ponto percentual sobre o IPCA do mês, de 0,45 por cento.
A meta oficial de inflação para este ano é de 4,5 por cento, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual.
PERSPECTIVA
Após um bom começo de ano, as chuvas rarearam e em março foi acionada a bandeira amarela, seguida pela vermelha em abril, quando especialistas chegaram a prever um cenário negativo para a geração hidrelétrica ao longo de todo o segundo semestre.
Em seguida houve um alívio, com boas chuvas que deixaram a bandeira verde em junho, mas a situação voltou a piorar no mês seguinte, com bandeira amarela, e em agosto, quando houve o retorno da bandeira vermelha.
Para o economista da Rosenberg & Associados Leonardo França Costa, se os reservatórios apresentarem melhora até o final do ano, sua projeção para a inflação pode ir abaixo dos atuais 2,8 por cento. Porém seus cálculos levam em consideração que a bandeira vermelha deve continuar em vigor no início do próximo ano, mantendo um limite à fraqueza da inflação.
"Não vemos melhora tão rápido porque a deterioração dos reservatórios foi bem grande", disse ele.
Entretanto, a maior preocupação para 2018 em relação à alta dos preços não gira tanto sobre a energia, mas sim sobre as expectativas de recuperação econômica, cenário que é inflacionário.
"A energia ainda não é ameaça suficiente para preocupar sobre a inflação do ano que vem. O que mais preocupa é como a inflação no geral vai responder a uma eventual recuperação mais rápida da atividade econômica e do mercado de trabalho", alertou o economista da Votorantim Corretora Carlos Lopes.
A expectativa dos economistas consultados na pesquisa Focus mais recente do Banco Central é de um crescimento econômico em 2017 de 0,70 por cento, com inflação de 2,95 por cento. Em 2018 a expansão da atividade melhora a 2,48 por cento, com alta de 4,06 por cento do IPCA.