RIO DE JANEIRO (Reuters) - Projetos de baterias e sistemas de armazenamento de energia tendem a não ser habilitados ainda para o próximo leilão de reserva de capacidade a ser promovido pelo governo federal, sinalizou o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Thiago Prado, nesta quarta-feira.
A decisão final sobre a inclusão das baterias no certame é do Ministério de Minas e Energia, acrescentou ele, lembrando que a pasta ainda não agendou a data da licitação, que estava inicialmente prevista para agosto.
"Como é um leilão de segurança (para o sistema elétrico), há uma tendência grande de permanecer os produtos ofertados da consulta pública", disse Prado à Reuters após participar do evento do setor de energia Enase.
Na consulta pública, lançada em março, o governo propôs habilitar na disputa apenas empreendimentos termelétricos e hidrelétricos. As baterias e outras soluções de armazenamento ficaram de fora da proposta por não haver regulamentação para sua aplicação no Brasil.
Prado destacou que ainda não foram feitos estudos mais aprofundados sobre como a inclusão das baterias na matriz brasileira poderia impactar tarifas e, consequentemente, a conta dos consumidores.
Diante das mudanças climáticas e eventos extremos, as incertezas sobre o tempo de uso das baterias também aumentam, algo que precisa ser considerado na implementação dessa tecnologia no sistema elétrico brasileiro.
"À medida que a gente tiver mais segurança, mapeamento de toda segurança climática e seu impacto sobre a operação de curto prazo, vamos ter um desenho de requisito mais ajustado para contemplar novas tecnologias", afirmou ele. "Nesse momento, talvez seja melhor esperar. Essa é minha visão, mas a decisão é do Ministério".
No mesmo evento, o diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Ricardo Tili, afirmou que o regulador espera para o fim do ano a primeira etapa normativa sobre armazenamento. Essa primeira fase, de um total de três previstas para a normativa, tratará de acesso à rede elétrica, outorga e empilhamento de receitas.
A autarquia já recebeu sugestões do setor sobre o tema e essas contribuições ainda serão analisadas. As demais fases devem ter suas normativas em 2025 e 2026, segundo Tili.
"Sempre vimos com bons olhos o armazenamento... Acho que é a nova fronteira do setor elétrico, veio para trazer estabilidade que as (fontes de energia) intermitentes não têm e será complementar as renováveis", disse ele, acrescentando que o preço das baterias tem caído bastante.
Ao ser questionado se as baterias poderiam entrar no leilão de reserva de capacidade deste ano, Tili afirmou não acreditar que a fonte poderia disputar sozinha, mas talvez associada a outro tipo de geração.
"Vai ser inevitável ter nos próximos leilões o produto bateria... Não sei como vem a deliberação do Ministério (para 2024). Se você tiver um produto que a bateria trabalhe associada com outra usina, não vejo problema nenhum, porque já tem regulamentação de usina híbrida", finalizou o diretor da Aneel.
(Por Rodrigo Viga Gaier)