Por Stephen Kalin e Rania El Gamal e Alex Lawler
RIAD (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quarta-feira em evento com investidores na Arábia Saudita que gostaria que o Brasil se tornasse membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).
O movimento poderia acrescentar ao cartel um importante produtor de petróleo como há muito tempo não se via.
O comentário, que Bolsonaro ressaltou ser uma opinião pessoal, acontece no momento em que o Brasil se prepara para realizar na próxima semana o que autoridades têm definido como o maior leilão de petróleo do mundo.
A licitação, que envolve excedentes de áreas concedidas à estatal Petrobras (SA:PETR4) sob um contrato conhecido como "cessão onerosa", está agendada para 6 de novembro e terá cobrança de 106,5 bilhões de reais em bônus de assinatura.
No dia seguinte, 7 de novembro, haverá outro leilão, também envolvendo áreas no pré-sal, com bônus de 7,85 bilhões de reais.
"Pessoalmente, eu gostaria muito que o Brasil se tornasse membro da Opep", disse Bolsonaro, em uma conferência de investimentos em Riad, por meio de um tradutor.
O presidente brasileiro disse que teria que consultar seus ministros de Economia e de Minas e Energia sobre o assunto.
Embora a estatal Petrobras seja dominante na produção de petróleo e gás do Brasil, a companhia atua em conjunto com várias multinacionais privadas do setor, o que poderia ser um empecilho para ideias relacionadas à Opep, que busca coordenar a oferta de petróleo por países produtores para sustentar preços.
Bolsonaro afirmou ainda que o Brasil tem reservas de petróleo maiores do que alguns membros da Opep e que, quando o país estiver entre os seis maiores produtores do mundo, isso ajudará a estabilizar o mercado global.
Delegados da Opep disseram que conversas com o Brasil estão em andamento, embora não exista ainda pedido formal para ingressar no grupo.
Executivos participando de um evento de petróleo e gás no Rio de Janeiro jogaram água fria sobre a proposta, incluindo uma pessoa da Petrobras.
"O Brasil vai exportar cada vez mais petróleo nos próximos anos, então é claro (ingressar na Opep) é uma possibilidade... mas dentro da Petrobras nunca falamos sobre isso", disse a fonte, acrescentando: "Eu acho que é algo que o presidente disse porque ele estava na Arábia Saudita".
A Petrobras não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
"Juntar-se à Opep significa cortar a produção. Dizer isso na véspera de um leilão não faz sentido. É um tiro no pé. Ele vai voltar e receber uma bronca do (ministro da Economia, Paulo) Guedes", disse uma fonte sênior da indústria de petróleo, também participando do evento no Rio.
FLERTE NO PASSADO
A Opep, que é liderada na prática pela Arábia Saudita e tem membros como Irã, Kuweit e Venezuela, está no momento implementando um pacto de cortes de produção em associação com outros produtores não associados, como a Rússia, em aliança conhecida como Opep+.
O Brasil flertou com o grupo de produtores em algumas ocasiões desde a descoberta de enormes reservas de petróleo em áreas de pré-sal, na década passada.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a afirmar em entrevistas que desejava ver o Brasil como membro da Opep, mas o movimento não se concretizou mesmo após um convite formal do Irã em 2008.
Mais recentemente, no governo de Michel Temer, o Brasil se descolou do discurso da Opep, ao defender uma rápida expansão da produção local em momento em que o cartel buscava aliados para conter a oferta global e sustentar os preços do petróleo.
AUMENTO DA PRODUÇÃO
A produção de petróleo tem crescido rapidamente no Brasil a partir de campos do pré-sal, subindo 220 mil barris por dia (bpd) em agosto, para um recorde de 3,1 milhões de bpd, segundo a Agência Internacional de Energia.
Isso tornaria o Brasil o terceiro maior produtor da Opep, depois da Arábia Saudita e do Iraque, bombeando o equivalente a mais de 10% da produção atual da Opep. O Irã, um importante membro do grupo, tem visto sua produção impactada por sanções norte-americanas.
O Brasil é um produtor maior do que vários outros que deixaram e se juntaram ao grupo nos últimos anos. A Nigéria, que permanece como membro desde 1971, bombeia quase 2 milhões de bpd e é o maior produtor a ter entrado mais recentemente no cartel.
O Equador planeja sair em 2020, enquanto o Catar saiu neste ano. A Guiné Equatorial (SA:EQTL3) entrou em 2017 e o Congo se tornou membro no ano passado.
(Com reportagem adicional de Luciano Costa, em São Paulo e Marta Nogueira, Gram Slattery e Brad Haynes, no Rio de Janeiro)