Por Roberto Samora e Marcelo Teixeira
SÃO PAULO (Reuters) - Diante de uma quebra de safra de trigo, o Brasil está avaliando a isenção de tarifa de importação do cereal para uma cota de 750 mil toneladas do produto de fora do Mercosul, uma decisão que poderia favorecer países exportadores como Estados Unidos e Rússia.
Uma reunião de ministros da Câmara de Comércio Exterior (Camex), que poderia analisar um pedido do Ministério da Agricultura sobre a cota, deverá ocorrer no dia 8 de novembro. Originalmente, o encontro estava marcado para esta quarta-feira, mas foi transferido para o próximo mês.
De acordo com o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), a proposta da cota sem tarifa foi incluída entre os assuntos da reunião de outubro do grupo técnico (Gecex), mas o tema não chegou a ser discutido no encontro que costuma ser preparatório para a reunião da Camex.
Isso foi feito a pedido dos técnicos do Gecex para que seja feito um debate aprofundado dos órgãos do governo, o que permitiria que a Camex decidisse algo em 8 de novembro, se até lá houver alguma conclusão.
Segundo o Mdic, não há previsão para uma próxima reunião do Gecex, que estava anteriormente agendada para o dia 8 de novembro.
Se aprovada, a isenção de tarifa de 10 por cento para 750 mil toneladas de trigo produzido fora do Mercosul --importações dentro do bloco não pagam a taxa-- poderia adicionar demanda pelo produto produzido no Hemisfério Norte, especialmente dos Estados Unidos e Canadá, que normalmente complementam as importações brasileiras, dominadas pelo produto do Mercosul.
Mas uma decisão pela isenção de tarifa também poderia agradar a Rússia, um dos maiores exportadores globais de trigo, que sempre afirma que gostaria de iniciar vendas aos brasileiros --os russos também são grandes importadores de carnes do Brasil.
O ministro da Agricultura do Brasil, Blairo Maggi, encontrou-se com seu colega russo em Moscou no início de outubro, para discutir formas de melhorar o comércio entre os dois países.
O secretário de Defesa Agropecuária, Luis Rangel, afirmou nesta quarta-feira à Reuters que um acordo fitossanitário para a Rússia exportar trigo ao Brasil foi acertado na visita do ministro à Rússia. Ele acrescentou que os russos já poderiam exportar trigo aos brasileiros.
Uma liberação da cota sem tarifa, contudo, poderia desagradar principalmente a Argentina, o principal exportador do produto ao Brasil e importante parceiro comercial, que vem aumentando sua produção do cereal após medidas governamentais que estimularam os produtores.
SAFRA QUEBRADA
A solicitação foi feita após o Brasil registrar uma quebra de safra do cereal em razão de adversidades climáticas e redução na área plantada de quase 10 por cento na comparação com 2016 --essa não seria a primeira vez que o país liberaria uma cota tarifária em momento de oferta menor.
A produção brasileira em 2017 foi estimada em 4,88 milhões de toneladas pelo governo brasileiro, redução de 27,4 por cento na comparação com 2016, quando o país obteve um recorde de 6,7 milhões de toneladas, o que desestimulou o plantio neste ano em meio a preços mais baixos.
O Brasil consome mais de 11 milhões de toneladas ao ano e deve importar 7 milhões de toneladas em 2017, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Importantes produtores como o Paraná e o Rio Grande do Sul sofreram este ano com problemas de seca, geadas e até chuvas em excesso no momento da colheita, após terem reduzido o plantio ante 2016.
Apesar de a questão da menor oferta de trigo do Brasil, o Ministério da Agricultura afirmou que o pedido para isenção de tarifa para uma cota tem a ver com compromisso assumido pelo Brasil com a Organização Mundial do Comércio (OMC).
(Por Roberto Samora e Marcelo Teixeira, em São Paulo; com reportagem adicional de Polina Devitt, em Moscou; edição de José Roberto Gomes)