Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - O Brasil, que historicamente sempre apareceu como um dos maiores importadores mundiais de trigo, vem reduzindo suas aquisições e expandindo as exportações nos últimos anos, o que coloca o país mais perto de uma autossuficiência em termos líquidos na balança comercial do cereal, disse um representante da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) nesta quarta-feira.
Segundo o superintendente de Inteligência e Gestão da Oferta da Conab, Allan Silveira dos Santos, as importações do país no ano-safra 2022/23 (agosto/julho) são estimadas em 5,8 milhões de toneladas e as exportações em 3,1 milhões de toneladas, deixando o país como um importador líquido de 2,7 milhões de toneladas.
"Isso já foi de 6 a 7 milhões de toneladas (importações líquidas)... Não é ainda autossuficiência, mas está próximo disso", disse ele, durante uma conferência transmitida pela internet mais cedo.
Ele destacou que esse movimento acontece após o país ter colhido um recorde de 10,55 milhões de trigo em 2022, alta de 37% ante 2021, e que há perspectiva de isso ser repetido 2023, apesar de o plantio da nova safra ainda levar mais alguns meses para começar.
A grande safra, para um consumo de 12,4 milhões de toneladas/ano, também trouxe algum alívio para os moinhos do Brasil, que importam geralmente a maior parte de suas necessidades da Argentina, onde a produção foi reduzida fortemente em 2022 devido à seca.
Com a maior oferta interna, tem havido um excedente para a exportação, uma vez que algumas qualidades do cereal não encontram demanda para toda a produção localmente.
"A exportação de trigo do Brasil deve fechar acima de 3 milhões de toneladas (no ano comercial) e tem redução nas importações... estamos reduzindo esta dependência de importações no mercado internacional", afirmou.
Essa grande produção se deve muito ao Rio Grande do Sul, que colheu uma máxima histórica de mais de 5,7 milhões de toneladas em 2022, com o Estado sendo estimulado a ampliar o plantio muito em função das grandes exportações registradas ao longo de 2022, quando o país acabou elevando embarques na esteira da menor oferta da Ucrânia.
MERCADO LENTO
Diante da grande produção e apesar das exportações, o mercado de trigo do Rio Grande do Sul está lento, disse a Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS) nesta quarta-feira.
Segundo o analista de Safras e Mercado, Élcio Bento, neste início de fevereiro há menos negócios com os moinhos abastecidos e na "defensiva".
"Eles sabem que tem uma safra recorde no Rio Grande do Sul, que os preços para exportação a partir do mês de janeiro, com a queda do dólar, travaram a exportação e que o iminente ingresso da safra de verão pode trazer necessidade de venda para produtores que precisam abrir espaços em seus armazéns", explicou Bento, citado pela FecoAgro.