Brasil tenta ampliar cota de exportação de açúcar aos EUA em tratativa sobre tarifa do etanol

Publicado 11.03.2025, 14:54
Atualizado 11.03.2025, 14:55
© Reuters. Dizeres em posto de gasolina nos EUAn18/05/2015nREUTERS/Jim Young

Por Bernardo Caram e Lisandra Paraguassu

BRASÍLIA (Reuters) - O governo brasileiro colocou na mesa de negociação com os Estados Unidos a possibilidade de ampliar a cota de exportação de açúcar para o país norte-americano sem incidência de imposto, com o objetivo de minimizar danos ao setor diante da chance de implementação de tarifa adicional sobre o etanol, disseram à Reuters duas fontes a par das tratativas.

A busca pelo aumento da cota para o açúcar é um pleito histórico do setor e já havia sido proposto sem sucesso em anos anteriores, mas o governo decidiu fazer uma nova tentativa após a abertura de rodadas de negociação nas últimas semanas, segundo as fontes.

Após assumir a presidência dos EUA, Donald Trump passou a propor elevações de tarifas para a importação de produtos. Em fevereiro, ao anunciar cobranças recíprocas contra países que taxam os Estados Unidos, a Casa Branca mencionou o etanol brasileiro como possível alvo. A medida ainda não foi implementada, mas pode vir em um novo pacote de taxações que o governo norte-americano promete para 2 de abril.

O Brasil tem hoje uma cota de cerca de 147 mil toneladas de açúcar que pode ser exportado para os EUA sem incidência de imposto de importação. O restante é taxado por tonelada, o que resulta em cobranças médias que ficam em torno de 80%.

Apesar da tarifa extracota, a exportação de açúcar do Brasil para os Estados Unidos não foi desprezível em 2024, somando 1,1 milhão de toneladas, de um total de 38,2 milhões embarcadas para todos os destinos, segundo dados governo brasileiro.

De acordo com as fontes, a ampliação da cota permitiria que produtores brasileiros reorientassem suas cadeias para ampliar a fabricação de açúcar em caso de uma eventual redução de demanda de etanol com a taxação do combustível pelos norte-americanos.

Os primeiros contatos para discutir as questões tarifárias foram feitos na semana passada, entre o vice-presidente Geraldo Alckmin e o secretário de comércio norte-americano, Howard Lutnick, e em seguida entre o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e o representante de comércio dos EUA, Jamieson Greer.

Depois dessas conversas, ficou acertado que grupos técnicos devem começar um diálogo para tratar das questões tarifárias. A expectativa do governo brasileiro é de inserir novos produtos e pautas de interesse do país na mesa de negociação.

Em entrevista à rádio CBN na terça-feira, Alckmin reconheceu que a tarifa imposta sobre o etanol pelo Brasil, de 18%, é maior que a dos EUA, de 2,5%, mas ponderou que é necessário avaliar em conjunto com o açúcar, citando cobrança elevada pelos norte-americanos para o volume que ultrapassa a "pequena cota".

Quando a possibilidade de ampliar a taxação do etanol foi citada pela Casa Branca em fevereiro, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse que para ter um plano “justo e recíproco” seria necessário zerar as alíquotas de importação para o açúcar brasileiro, já que os dois países sempre negociaram açúcar e etanol de forma conjugada.

“A medida adotada pelo presidente Trump é desarrazoada, uma vez que não se fala em contrapartida na ampliação da exportação de açúcar brasileiro para os norte-americanos”, afirmou em nota na ocasião.

A discussão sobre inclusão do açúcar nas negociações para evitar uma tarifa maior para o etanol brasileiro nos EUA, contudo, acontece em um momento em que o Brasil tem uma produção crescente do combustível produzido a partir do milho, mesma matéria-prima utilizada pelos norte-americanos.

Com vários projetos em desenvolvimento ou em construção, a produção anual de etanol de milho do Brasil deverá quase dobrar para cerca de 16 bilhões de litros até 2032, afirmou o banco de investimentos Citi em uma nota publicada nesta terça-feira, citando a rápida expansão do setor.

As exportações de etanol do Brasil para os EUA no ano passado somaram 310 milhões de litros, de um total de 1,9 bilhão de litros exportados para todos os destinos, segundo dados publicados pela União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica). Já as importações totalizaram 192 milhões de litros em 2024, sendo 110 milhões vindo dos EUA.

Uma das fontes do governo acrescentou que também será feita uma tentativa de ampliar a cota de exportação de carne para os Estados Unidos, em pauta não ligada diretamente ao etanol, mas que atenderia ao agronegócio brasileiro.

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