Por Luciano Costa
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Brennand Energia, grupo do Nordeste que opera parques eólicos e hidrelétricas, tem se preparado para estrear em energia solar, com um projeto na Bahia que deve ter as obras iniciadas no segundo semestre do próximo ano, disse à Reuters o presidente da companhia nesta quinta-feira.
O investimento terá como principal objetivo equilibrar o portfólio de geração da empresa, uma vez que usinas fotovoltaicas têm maior produção durante o dia, enquanto as eólicas têm pico de produção com os ventos noturnos.
A ideia da empresa, que tem hoje pouco mais de 600 megawatts em capacidade instalada, é que os perfis complementares das fontes funcionem na prática como um seguro para a Brennand após uma esperada mudança nos preços spot no mercado de energia elétrica, que passarão a ser calculados em base horária a partir de 2021, e não mais de forma semanal como hoje.
A adoção dos preços horários de eletricidade estava prevista para a partir de janeiro de 2020, mas foi adiada em um ano pelo governo em meio a pedidos de investidores por mais tempo para avaliar os impactos da medida.
Geradores eólicos chegaram a apontar preocupação com a mudança, em meio a temores de que a concentração de ventos na madrugada deixe as usinas da fonte expostas ao risco de ter que comprar energia no mercado durante o dia --momento em que os preços ainda tendem a ser mais elevados, devido à maior demanda.
"A produção da usina vai ser distribuída para mitigar os efeitos do preço horário sobre nossas usinas eólicas, cuja produção estamos vendendo no mercado livre", explicou Mozart Siqueira, CEO da Brennand e ex-presidente da estatal Chesf, da Eletrobras (SA:ELET3).
"É algo óbvio, todo mundo deveria estar fazendo isso", acrescentou ele, sorrindo.
A usina fotovoltaica, com 30 megawatts em capacidade, também terá a produção futura negociada com clientes no mercado livre de eletricidade, onde grandes consumidores como indústrias negociam contratos diretamente com consumidores e geradores.
Os contratos devem ser fechados pelo braço de comercialização de energia da Brennand, enquanto a empresa também já tem negociado com bancos e fornecedores para concluir a estruturação do empreendimento.
A meta da Brennand é colocar a usina solar em operação até julho de 2022, mas há espaço para uma antecipação desse prazo, segundo Siqueira.
Ele não quis comentar o investimento previsto, mas empreendimentos de porte semelhante contratados em leilão do governo para novos projetos em junho estavam orçados em cerca de 130 milhões de reais.
"A solar está ficando competitiva, outro fator pelo qual estamos entrando é isso. É o casamento de duas fontes (eólica e solar) competitivas", afirmou Siqueira, que prevê concluir a estruturação técnica e econômico-financeira do projeto até o final do ano.
Em paralelo, a Brennand começou em junho as obras de um complexo eólico de cerca de 90 megawatts, também na Bahia, após ter negociado a energia dos parques no mercado livre.
"Deve entrar em operação em janeiro de 2021. O investimento é de 450 milhões de reais", disse Siqueira.
O empreendimento utilizará turbinas da Siemens Gamesa, enquanto a forma de financiamento deverá ser definida brevemente, acrescentou o executivo.
Do total de capacidade da Brennand Energia, 350 megawatts vêm de ativos hidrelétricos e quase 250 megawatts em eólicas.
A companhia concluiu em março a aquisição da fatia da Eletrobras em um parque eólico construído em conjunto pelas empresas, após leilão de desinvestimentos realizado pela estatal em setembro do ano passado.
A Brennand emitiu debêntures no final do ano passado para pagar a aquisição, que envolveu mais de 230 milhões de reais.