O prefeito João Doria (E) e o secretário de Segurança Pública, Mágino Alves Barbosa, falam sobre o programa Redenção ovena Rosa/Agência Brasil
A Prefeitura de São Paulo anunciou hoje (10) um novo projeto para a Cracolândia, ponto de concentração de usuários de crack no bairro da Luz, região central da cidade. O programa, que será chamado de Redenção, ainda não está formatado, mas será feito de forma integrada com o governo estadual. Secretarias das duas esferas de governo deverão atuar em grupos de trabalho para apresentar uma proposta final em 60 dias.
O prefeito João Doria disse que a nova iniciativa deve começar em abril. Segundo ele, o programa terá cinco eixos: policial, social, medicinal, urbanístico e de zeladoria urbana. O anúncio foi feito na Secretaria de Estado de Segurança Pública de São Paulo, após reunião entre as pastas envolvidas.
Experiências
A nova ação deverá, de acordo com o secretário municipal de governo, Julio Semeghini, aproveitar a experiência acumulada do programa estadual, Recomeço, e municipal, De Braços Abertos (DBA). “Você está usando a experiência das duas coisas boas”, disse sobre o projeto que deverá ser implementado não só na região da Luz, mas em outros sete pontos da capital paulista ,com características semelhantes, mas em menor escala.
Atualmente, o programa municipal atende a 467 pessoas. A ação integra os usuários, de forma flexível, a frentes de trabalho, oferece alojamento em hotéis e remunera os participantes, por dia, pelos serviços prestados.
O programa estadual Recomeço, que também funciona na Cracolândia e em outras partes do estado, busca dependentes nas ruas a fim de levá-los para tratamento, com afastamento e abstinência, e reabilitá-los para o trabalho. Em casos extremos, são usadas internações involuntárias e compulsórias.
As atividades que serão desenvolvidas a partir de abril vão levar em consideração, segundo o secretário municipal de Saúde, Wilson Pollara, a multiplicidade de perfis encontrados na Cracolândia. “ Nós identificamos 14 tipos de pessoas que estão lá: com doença mental, com doença física, com tubercolose, com sífilis. São muito diferentes. Então, não é só uma questão de encontrar uma casa e um emprego”, ressaltou.
De acordo com a secretária municipal da área, Soninha Francine, por parte da assistência social deverá ocorrer uma intensificação das abordagens nos locais de uso de drogas. “Aumentar a frequência da abordagem, o horário de atendimento e, principalmente, as possibilidades de acolhimento: casas de passagem, repúblicas terapêuticas. Isso caminha junto a nossa intenção de requalificar a nossa rede de atendimento da prefeitura”, disse.
Ação policial
A polícia Civil e Militar deverá continuar atuando de forma pontual na região, segundo secretário estadual de Segurança Pública, Mágino Barbosa. Está descartada, no entanto, uma grande operação na área. “Nós não podemos realizar hoje uma ação dentro do que se convencionou chamar fluxo [aglomeração de usuários de crack, dentro da Cracolândia, porque o resultado seria extremamente danoso”, afirmou o secretário. Barbosa pretende trabalhar em conjunto com a Polícia Federal em ações de inteligência contra o tráfico de drogas.
Apreensões
O medo de ações violentas da polícia ou da Guarda Civil Metropolitana, devido ao indicativo de mudanças nas políticas para a Cracolândia levou à mobilização de ativistas, usuários e trabalhadores de saúde e assistência social na região. No último domingo (8) o grupo realizou um churrasco colaborativo e uma samba na Rua Helvétia, onde há o chamado “fluxo”, com maior concentração e aglomeração de usuários e vendedores de crack. Desde segunda-feira (2), ativistas se revezam em uma vigília na Cracolândia, principalmente à noite, para tentar impedir que o local seja palco de ações truculentas.
Um dos beneficiários do programa De Braços Abertos, Júnior, de 22 anos, disse que um dos grande méritos do projeto foi justamente ter mudado a forma de atuação em relação aos usuários. “A polícia ter parado de invadir e nos machucar. Teve gente que já morreu por causa disso. O DBA nos ajudou bastante”, disse, a caminho do hotel em que está morando há quase cinco meses.
Trabalhando com varrição de ruas, como parte do projeto, Júnior tem dificuldades em apontar defeitos na ação. “Para mim esse programa está ótimo”, afirma. Frequentador do fluxo há dez anos, entre idas e vindas - “tirei muitos dias de cadeia” – ele se diz ressentido com o preconceito contra os usuários. “Todo mundo acha que nós somos um lixo. Nós somos seres humanos que nem eles, mas nós temos um vício”.