SÃO PAULO (Reuters) - O cancelamento do leilão que seria realizado neste ano para contratar mais potência ao setor elétrico brasileiro não traz problemas ao atendimento dos consumidores no curto e médio prazo, segundo o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Carlos Ciocchi.
Para ele, embora o órgão tenha identificado um déficit de potência para daqui cinco anos, o governo pode esperar até o próximo ano para realizar esse certame de forma mais "robusta" e eventualmente sob novas diretrizes.
"Ele (o leilão) vai ser feito obviamente no futuro, ano que vem, com outros estudos e datas, para que a gente possa fazer a coisa com mais tranquilidade", disse Ciocchi a jornalistas em São Paulo, após participação em evento da Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen).
O Ministério de Minas e Energia anunciou na véspera o cancelamento de três leilões de energia que estavam previstos para este ano. No caso do leilão de potência, a justificativa foi de que a pasta está estudando uma forma de viabilizar um certame pautado pela "neutralidade tecnológica" --isto é, que permita a concorrência de diferentes fontes de geração de energia.
"Há oportunidade de aproveitar todos os aprendizados do ano passado e de lá fora para fazer um leilão mais robusto", disse o diretor do ONS, exemplificando com novos mecanismos e tecnologias do setor elétrico, como geração distribuída, armazenamento e resposta da demanda.
HORÁRIO DE VERÃO
Ciocchi comentou ainda que o ONS está concluindo estudos solicitados pelo governo sobre o retorno do horário de verão, e que um diagnóstico deverá ser apresentado na próxima reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), que está prevista para 5 de outubro.
Criado com o objetivo de reduzir o consumo de energia elétrica em momentos de pico, o horário de verão acabou sendo suspenso pelo governo Bolsonaro em 2019, sob a justificativa de que tinha deixado de produzir resultados do ponto de vista do setor elétrico.
Ciocchi disse, no entanto, que de 2021 para cá o ONS identificou uma mudança "gritante" associada à expansão da geração distribuída de energia. A proliferação desse segmento, principalmente a partir de painéis solares instalados em casas e terrenos, afetou a curva de energia elétrica e levou à necessidade de reavaliação sobre o horário de verão.
(Por Letícia Fucuchima)