Por José Roberto Gomes
SÃO PAULO (Reuters) - A produção de açúcar no centro-sul do Brasil deverá cair em mais de 5 milhões de toneladas na safra 2018/19, iniciada neste mês, refletindo a menor oferta de matéria-primeira e o maior foco na fabricação de etanol, projetou nesta terça-feira a Datagro.
A queda de quase 15 por cento de uma temporada para a outra na principal região produtora do maior player global do setor sucroenergético, contudo, deve ser compensada por amplas safras em outros países, levando o balanço mundial de oferta a registrar superávits tanto neste quanto no próximo ano, acrescentou a consultoria.
Segundo a Datagro, o centro-sul deverá produzir 30,8 milhões de toneladas de açúcar em 2018/19, abaixo dos 36,06 milhões de 2017/18 e dos 31,6 milhões considerados na previsão de março.
A revisão leva em conta os preços internacionais do açúcar no menor nível em mais de dois anos e também o maior interesse das usinas pelo etanol, produto cuja demanda tem se mostrado forte desde meados do ano passado após altas tributárias maiores sobre a gasolina, o concorrente direto do biocombustível.
Conforme o presidente da Datagro, Plinio Nastari, a produção de etanol no centro-sul deve subir "em 1 bilhão de litros" em 2018/19, ou cerca de 4 por cento, ante os 26 bilhões de 2017/18. Na previsão anterior, a consultoria havia estimado 26,7 bilhões de litros.
Já a oferta de cana tende a diminuir consideravelmente no atual ciclo, com moagem estimada pela Datagro em 577 milhões de toneladas, frente 596,3 milhões em 2017/18 (-3,2 por cento).
"O que temos observado é um clima com chuvas abaixo da média de 30 anos (no centro-sul), principalmente em abril. Está chovendo pouco em Ribeirão Preto (SP), uma região que pesa muito, e está chovendo muito em Goiás", disse Nastari durante teleconferência online via Facebook.
MUNDO
A Datagro prevê superávits globais de açúcar de 10,8 milhões de toneladas na safra 2017/18, que se encerra em setembro, e de 7,6 milhões em 2018/19, em meio a amplas produções principalmente na Índia, Tailândia e União Europeia.
Para a Índia, segundo maior produtor de cana depois do Brasil, a Datagro avalia que a produção de açúcar no atual ciclo irá para perto de 32 milhões de toneladas, com perspectiva de manutenção desse volume no próximo.
"Tudo indica que a área plantada com cana na Índia passa de 4,9 milhões para 5,1 milhões de hectares em 2018/19, porque os preços internos do açúcar continuam remuneradores, equivalentes a 40 dólares por tonelada. Esses preços estimulam a produção de cana", destacou Nastari.
Para a UE, que aboliu um regime de cotas de produção em outubro do ano passado, a expectativa é de que a produção de açúcar em 2018/19 atinja 20,6 milhões de toneladas, ante 21,2 milhões neste ano.
"Estamos estimando manutenção da área cultivada com beterraba na UE, em 1,7 milhão de hectares. No entanto, o plantio ocorreu mais atrasado por causa do tempo frio e úmido... Isso deve comprometer o rendimento agrícola neste ano", avaliou.
Por fim, com relação à Tailândia, a previsão da Datagro é de um salto na produção em 2017/18 para 14,5 milhões de toneladas, ante 10,3 milhões na anterior, refletindo "efeitos positivos" de chuvas.