SÃO PAULO (Reuters) - A estatal paulista Cesp (SA:CESP5), atual administradora das maiores hidrelétricas cuja concessão será oferecida ao mercado pelo governo federal em leilão agendado para 25 de novembro, está com dificuldades para fechar parcerias e viabilizar a entrada na disputa, disse a jornalistas nesta quarta-feira o presidente da companhia, Mauro Arce.
O executivo afirmou também que o grupo de bancos que o governo federal anunciou que iria financiar as empresas interessadas no leilão "não existe" e que apenas o Banco do Brasil (SA:BBAS3) teve reuniões com a Cesp sobre o certame.
O governo federal quer arrecadar 17 bilhões de reais com a cobrança de outorga junto aos vencedores do leilão, que ofertará 29 usinas, mas as empresas têm revelado dificuldades de caixa e de financiamento para a disputa.
Do montante, 11 bilhões de reais teriam que ser depositados nos cofres públicos ainda neste ano.
Segundo Arce, o BB ofereceu um empréstimo ponte com custo considerado alto pela Cesp, mas dentro dos padrões que têm sido praticados no mercado, em um momento de juros elevados e economia em recessão.
"O valor (do empréstimo) estava de acordo com o quadro que existe hoje, de escassez de recursos. Participei de duas reuniões com o BB, eles são muito atenciosos... mas o pool de bancos não existiu, o BB com outros (bancos)", disse.
Segundo Arce, a Cesp chegou a procurar outros bancos e fundos, mas não chegou a um acordo que viabilize sua participação até o momento.
A Cesp busca parcerias e financiamento para disputar o leilão e tentar manter as usinas de Jupiá e Ilha Solteira --sem as quais terá forte perda de geração de caixa-- mas o único interessado que respondeu uma chamada pública aberta pela estatal já desistiu do negócio.
"Vamos fazer o possível (para disputar), mas está difícil", disse Arce. Segundo ele, as empresas precisam confirmar a participação à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) até sexta-feira.
INTERESSADOS
Enquanto a concessionária das usinas enfrenta dificuldades, as hidrelétricas da Cesp receberam visitas dos chineses da Three Gorges, de Furnas, do Grupo Eletrobras (SA:ELET3), e da mineira Cemig (SA:CMIG4), disse Arce, que destacou o forte interesse dos orientais, que compareceram com uma grande equipe de técnicos.
"O pessoal da Three Gorges trouxe muita gente lá da China, um ônibus cheio", afirmou Arce.
A Reuters havia adiantado o forte interesse dos chineses, que chegaram a pedir autorização à Aneel para ampliar o tempo das visitas e o número de pessoas autorizado a participar.
O presidente da Cesp afirmou que acredita que, por serem parceiras de longa data e pela falta de caixa da Eletrobras, a estatal brasileira pode aparecer no leilão em sociedade com a Three Gorges, dona da hidrelétrica de Três Gargantas, a maior do mundo em capacidade instalada.
A competição pelos ativos que pertenciam à Cesp até o vencimento da concessão, no entanto, não deve ser tão acirrada, afirmou o executivo.
"É muito difícil aparecer muita gente (na disputa)...os valores são muito altos", disse, em referência ao bônus de outorga que o governo federal cobra pelas hidrelétricas de Jupiá e Ilha Solteira, que soma cerca de 14 bilhões de reais.
(Por Luciano Costa; Edição de Gustavo Bonato)