Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) -A China foi destino de 1,165 milhão de toneladas de milho do Brasil em 2022, com quase a totalidade embarcada em dezembro, o que representou 18% do total exportado pelo país no mês passado, após os chineses realizarem compras diante da confirmação da liberação de seu mercado ao cereal brasileiro em novembro.
O percentual pode dar uma indicação de como vai se portar o gigante asiático no mercado de milho do Brasil, que já é o maior fornecedor de soja para os chineses, que por sua vez reduziram compras da oleaginosa nacional em 2022, segundo dados do Ministério da Agricultura.
Na exportação de milho em dezembro, a China foi responsável por um terço do incremento do volume exportado, colocando já o país como o principal importador do cereal no mês passado, à frente de tradicionais compradores do produto nacional, como Irã e Espanha.
O Brasil exportou ao todo 6,4 milhões de toneladas de milho em dezembro, com a China levando 1,1 milhão de toneladas, seguida por Espanha (778 mil toneladas) e Irã (750,8 mil toneladas, segundo dados do ministério, que publicou na véspera que o milho foi um dos destaques do agronegócio nacional no ano passado.
No ano completo de 2022, os números mostraram ainda que o Irã retomou o posto de maior comprador de milho do Brasil, posição que havia perdido por pouco em 2021 para o Egito. O país do Oriente Médio, tradicional comprador do cereal brasileiro, praticamente dobrou as importações do grão nacional em 2022, com 6,58 milhões de toneladas.
O crescimento forte dos embarques ao Irã, assim como para outros destinos, ocorreu na esteira da maior oferta brasileira, com uma safra recorde de 113,13 milhões de toneladas permitindo que o Brasil exportasse em 2022 volume jamais visto de 43,3 milhões de toneladas, mais que o dobro das exportações totais de 2021, quando as vendas externas despencaram por conta da quebra da colheita.
Já os embarques para a China em 2022 foram realizados quase todos em dezembro, com 1,1 milhão de toneladas, segundo os dados do ministério.
A presença dos chineses no mercado de milho do Brasil indica que o segundo exportador mundial do produto começa a incomodar mais a liderança dos Estados Unidos no mercado internacional.
Após Brasil e China fecharem um protocolo fitossanitário em 2022, a alfândega chinesa atualizou em novembro sua lista de exportadores brasileiros de milho aprovados, liberando caminho para os embarques.
Segundo informações da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) divulgadas na semana passada, os embarques do cereal para a China já superavam 1 milhão de toneladas no início deste ano.
A expectativa da Anec é que o Brasil embarque mais de 5 milhões de toneladas do grão em janeiro, o que seria um recorde para o mês.
Até a segunda semana de janeiro, o total embarcado somou quase 3 milhões de toneladas, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).
Em 2022, países da União Europeia também elevaram as compras de milho brasileiro, visto como uma alternativa para lidar com uma escassez do produto ucraniano, cujos embarques sofreram impactos da guerra. Além disso, a safra da Europa foi atingida pela seca.
A Espanha importou quase 5 milhões de toneladas de milho do Brasil em 2022, mais que o dobro de 2021, também contando com a maior oferta do cereal brasileiro.
O Japão importou 4,9 milhões de toneladas, também com forte crescimento, enquanto o Egito foi destino de 3,96 milhões de toneladas do grão do país sul-americano.
Coreia do Sul e Colômbia importaram aproximadamente 2,4 milhões de toneladas do milho do Brasil no ano passado, enquanto o México tomou 1,7 milhão de toneladas.
MENOR FATIA DE SOJA
Se a China fechou ampliando as compras de milho do Brasil, no caso da soja os embarques brasileiros aos chineses foram menores em 2022, após uma quebra de safra e turbulências nos preços e na logística.
Além disso, um consumo de ração mais fraco também afetou a demanda chinesa, segundo avaliação do Rabobank.
As exportações totais de soja do Brasil somaram 78,9 milhões de toneladas em 2022, queda de 8,36% na comparação com 2021, enquanto os embarques da oleaginosa brasileira aos chinees recuaram 11,19% na mesma comparação, para 53,7 milhões de toneladas.
A China continou como o maior importador de soja do Brasil com folga em 2022, abocanhando fatia de 68% do total exportado pelos brasileiros, versus 70,2% em 2021.
(Por Roberto Samora; edição de Nayara Figueiredo)