Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) avalia que medidas para combater o coronavírus, como o isolamento social e o fechamento de bares e restaurantes, têm impactado severamente produtores de bens perecíveis, como hortaliças, frutas, pecuária leiteira e flores, e enviou nesta quarta-feira ao governo solicitação para prorrogação de parcelas de financiamentos.
"O objetivo das medidas (pedidas pela entidade) é dar um fôlego para o pessoal conseguir se manter na atividade, eles terão queda de receita e os custos continuarão elevados", disse o superintendente técnico da CNA, Bruno Lucchi, à Reuters.
Segundo ele, a entidade, uma das principais do agronegócio, enviou ofício aos ministérios da Agricultura e da Economia com as reivindicações, que incluem a prorrogação automática de parcelas, o que evitaria que produtores pequenos e médios tenham que ir aos bancos.
A confederação pede a prorrogação de parcelas de financiamentos vencidas e vincendas em 2020, além de adiamentos dos contratos de custeio por seis meses, sem incidência de juros e correção monetária. Quer ainda a suspensão da necessidade de produtores registrarem em cartórios operações de crédito, para que eles não tenham de se deslocar até as cidades.
A entidade não detalhou o montante total das parcelas que poderiam ser prorrogadas.
Mas as prorrogações seriam automáticas para produtores cuja soma de contratos totalizem 1,5 milhão de reais, e as medidas não deveriam comprometer os limites de crédito para a safra 2020/21.
A CNA ainda quer prorrogação do prazo para entrega do imposto de renda para a atividade rural, entre outros pedidos tributários.
DESAFIOS
O superintendente técnico da CNA disse que produtores de grãos, cujos preços estão historicamente elevados --a categoria trabalha com produtos que podem ser armazenados por mais tempo-- têm outro problemas, como a contratação de transporte e manutenção de equipamentos, uma vez que muitas lojas de autopeças fecharam em função da medidas contra a doença.
Ele comentou ainda que entidade conversa com governos locais para evitar problemas operacionais ao produtor, além de eventual falta de mão de obra para colheitas.
"Os problemas deles são outros-- produtores de grãos, café, açúcar, o problema é escoar a produção. No caso de grãos, está tendo dificuldades, tem algumas barreiras para a contratação de transporte", disse.
"Peças, as lojas de autopeças estão fechadas... no caso de café e cana, tem a questão do transporte dos trabalhadores", disse ele, lembrando que a colheita de cana já começou e a de café terá início brevemente.
"Temos conversado com prefeituras para reduzir a densidade nos ônibus e para não proibir o transporte, alguns estão colocando ônibus extras, ampliando refeitórios e dormitórios, mas precisamos ter diálogo com autoridades municipais, principalmente para que a gente consiga dar fluidez para a colheita."
(Por Roberto Samora)