SÃO PAULO (Reuters) - O Conselho Nacional do Café (CNC) informou nesta sexta-feira que pediu o cancelamento de um leilão de estoques públicos do produto previsto para a semana que vem, argumentando que a operação antes da entrada da nova safra não favorece o setor.
"Essa medida se faz necessária... porque a realização de leilões no período que precede o ingresso dos cafés da nova safra é extremamente negativa, pois dá a falsa impressão ao mercado de que temos um grande estoque de café", afirmou o presidente-executivo do CNC, Silas Brasileiro.
O representante dos produtores ressaltou que, ao contrário da impressão que pode ser passada com a realização do leilão, "o estoque brasileiro de passagem será, provavelmente, o menor de todos os tempos de nossa história cafeeira".
O Brasil teve, na temporada passada, uma de suas piores safras dos últimos anos, segundo o CNC, por conta da seca histórica de 2014 e das altas temperaturas. Ao mesmo tempo, as exportações de café do Brasil no ano passado foram recordes, com produtores aproveitando os preços altos para comercializar o produto.
Segundo Brasileiro, o CNC e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) são contrários à oferta do produto no momento atual, na iminência da chegada da safra, e fizeram contato na quinta-feira com a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, e com o secretário interino de Produção e Agroenergia, Luciano Carvalho, solicitando o cancelamento do pregão.
Procurado, o Ministério da Agricultura não comentou o assunto imediatamente.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) não encontrou nenhum comprador para a oferta no leilão desta semana, de 40,8 mil sacas de 60 kg, com boa parte de lotes da safra 2002/03. A estatal remarcou o certame para o dia 1º de abril.
"O CNC e a Comissão Nacional do Café da CNA entendem que esse resultado foi o esperado, já que o leilão foi definido sem a participação do setor privado da cafeicultura...", afirmou.
Segundo Brasileiro, o governo cometeu "um equívoco" ao autorizar a Conab a realizar o leilão, não apenas pelo prazo determinado, mas pelos preços iniciais que foram estabelecidos, em patamares iguais ou superiores aos registrados no mercado físico atualmente.
"Recordamos que os cafés ofertados são de safras antigas, próprios para consumo, porém desmerecidos, alguns 'esbranquiçados', por exemplo", acrescentou o CNC.
(Por Roberto Samora)