SÃO PAULO (Reuters) - A colheita de soja do Brasil deve atingir recorde de 153 milhões de toneladas na safra 2022/23, estimou a Agroconsult nesta terça-feira, com redução em relação à estimativa de 153,4 milhões apontada no mês passado, enquanto Estados do Centro-Oeste compensam problemas nas lavouras do Rio Grande do Sul.
A última projeção foi divulgada antes do início das avaliações de campo feitas pelos técnicos da consultoria durante expedição Rally da Safra. Até o momento, 11 equipes já avaliaram as lavouras de quatro Estados produtores (Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Paraná), e indicaram bons resultados.
O volume estimado está 18,4% acima da temporada 21/22, "reforçando a perspectiva de uma grande safra".
As amostras coletadas pelos técnicos do Rally em algumas regiões, o resultado da colheita da soja precoce e a avaliação sobre o desenvolvimento das áreas de ciclo médio e tardio sustentaram uma série de revisões positivas na estimativa de produtividade, completou a consultoria em nota.
Em Mato Grosso, a produtividade, antes estimada em 60 sacas por hectare, foi revista para 63,5 sacas por hectare (com o acréscimo de 2,8 milhões de toneladas na safra do Estado).
Já em Mato Grosso do Sul, a produtividade saiu de 59,5 para 62 sacas/hectare (mais 0,6 milhão de toneladas).
Em Minas Gerais e no MAPITO-BA (Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia), a elevação foi de 1,4 milhão de toneladas.
A única exceção é o Rio Grande do Sul, onde a seca levou a uma queda de 5,2 milhões de toneladas nas estimativas de produção, disse a Agroconsult.
"Em geral, continua sendo uma safra bastante diferente da anterior, na qual, logo em janeiro, foi preciso fazer um corte de quase 10 milhões de toneladas na produção devido à falta de chuva no Sul do Brasil", notou o coordenador do Rally da Safra, André Debastiani.
"Na maior parte das regiões, as lavouras tiveram bom desenvolvimento em cenário de clima favorável. Nossos técnicos detectaram maior peso de grãos e aumento no número de grãos por hectare."
A estimativa de produtividade média para a safra brasileira passou de 59,2 para 58,8 sacas por hectare desde o início do Rally da Safra, uma variação mínima até aqui.
RIO GRANDE DO SUL
A situação no Rio Grande do Sul, porém, é "preocupante", disse a Agroconsult.
Nas últimas semanas, a estiagem se agravou --justamente no momento em que, devido ao plantio mais tardio nesta temporada, 80% da área plantada se encontravam em período reprodutivo, crítico para os resultados.
A produtividade estimada caiu de 51,5 sacas por hectare (estimativa pré-Rally) para 38 sacas por hectare na lavoura gaúcha.
Caso prossiga a irregularidade do clima, sem as chuvas aguardadas esta semana, há a possibilidade de nova redução na produtividade, afirmou a Agroconsult.
Se isso acontecer, a safra no Rio Grande do Sul poderá estar próxima de 10 milhões de toneladas de soja ou menos, o que repetiria o mau desempenho de 21/22, com impacto negativo para a produção brasileira.
Entre outros especialistas e produtores ouvidos pela Reuters, as projeções ainda são diversas em relação ao tamanho da quebra no Rio Grande do Sul, mas já há quem descarte uma produção nacional acima a 150 milhões de toneladas.
(Por Ana Mano, Nayara Figueiredo e Roberto Samora)