(O Ministério da Agricultura corrigiu as informações sobre as tarifas de importação para 4 e 10%, não de 4 a 10% e para 26,4%, não 24,6% como tinha informado anteriormente)
BRASÍLIA (Reuters) - O acordo dos governos brasileiro e dos Estados Unidos para comércio de carne bovina in natura, consolidado nesta segunda-feira em evento no Palácio do Planalto, favorecerá as exportações do Brasil e ajudará na abertura de novos mercados para o país, o maior exportador global do produto, disseram autoridades.
"Muito mais do que a possibilidade de mandar milhares de toneladas para os Estados Unidos, é a chance de vendermos também para outros países", declarou o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, durante o evento.
Os embarques aos EUA devem ter início em setembro, segundo a Associação das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) em nota.
Segundo o ministro, com o acordo nesta segunda-feira --que envolveu a troca de documentos entre os dois países sobre equivalência de controles de carne bovina-- o Brasil poderá agora negociar carne bovina in natura para exigentes destinos, como Japão, Coreia do Sul, Canadá e México, que usam o padrão norte-americano de sanidade.
"Isso faz com que o Brasil seja reconhecido não só pelos Estados Unidos, mas boa parte do mercado internacional se abre a partir deste momento. A partir do momento que temos este status resolvido, outros países virão."
O Brasil já vende carne industrializada para os EUA (maior importador do produto brasileiro), mas não cortes in natura, com maior potencial de alavancar o comércio. Os norte-americanos são os maiores consumidores globais da carne.
Anteriormente, o Ministério da Agricultura havia estimado que o acordo com os EUA, que vem sendo negociado há vários governos, poderá incrementar as exportações brasileiras em 900 milhões de dólares por ano, mas sem detalhar prazos ou especificar se esse montante inclui negócios indiretos.
No ano passado, as exportações de carne bovina do Brasil atingiram 5,9 bilhões de dólares, com embarques de 1,88 milhão de toneladas, de acordo com dados da indústria exportadora.
"A partir deste momento já estamos liberando o trânsito de mercadorias do Brasil para os Estados Unidos... Estabelecemos prazo de 90 dias inicial, mas com a documentação apresentada hoje deve ser mais rápido", acrescentou o ministro.
Segundo ele, de posse do acordo, a ideia é que uma comitiva brasileira viaje à Ásia em setembro para prospectar mercados, caso o processo de impeachment de Dilma Rousseff esteja concluído. Se a votação do impedimento não ocorrer até o início do próximo mês, a viagem será cancelada.
COTA DE IMPORTAÇÃO
Se o governo brasileiro venceu uma barreira não tarifária com a celebração do acordo, os exportadores ainda terão de enfrentar cotas e tarifas para entrar no mercado norte-americano.
Segundo a Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio do Ministério da Agricultura, o Brasil entra agora na cota dos países da América Central, que é de 64,8 mil toneladas por ano, com tarifa de 4 por cento e 10 por cento, dependendo do corte da carne.
Fora da cota (sem limite de quantidade), a tarifa é de 26,4 por cento.
Com o acordo, frigoríficos de 14 Estados (Bahia, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Rondônia, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e Tocantins) e do Distrito Federal estarão habilitados a exportar carne in natura, afirmou a Abiec.
O acordo também dá direito aos EUA, maior produtor global de carne bovina, de comercializar o produto para o mercado brasileiro.
(Reportagem de Lisandra Paraguassu em Brasília e Roberto Samora em São Paulo; edição de Raquel Stenzel)