Por Vitalii Hnidyi
KHARKIV, Ucrânia (Reuters) - Dois professores as receberam com um sorriso na porta de aço e, descendo a escada de concreto, mãe e filha passaram, de mãos dadas, por outra porta blindada e entraram no bunker para o primeiro dia de aula.
Centenas de crianças começaram as aulas esta semana na primeira escola bunker construída especificamente para a Ucrânia, 6 metros abaixo do solo para protegê-las dos ataques de drones e mísseis russos.
A escola primária 155 de Kharkiv é acessada por uma porta em uma pequena caixa de concreto branco na calçada. Na parte inferior da escada, as salas de aula se ramificam em um corredor. Não há janelas, mas as salas são bem iluminadas e os corredores são pintados de branco e verde-limão.
A segunda maior cidade da Ucrânia, localizada no nordeste do país, perto da fronteira com a Rússia, está sob implacável ataque russo desde a invasão de Moscou há 26 meses. Nas últimas semanas, os combates se tornaram mais acirrados e os ataques aéreos mais constantes, à medida que uma ofensiva russa na zona rural circundante fez com que as tropas ucranianas recuassem.
Nesses dias de guerra, a maioria das crianças de Kharkiv faz a maior parte do aprendizado em casa, em um computador. Masha, de 9 anos, e seu irmão Oleksii, de 6, estavam entusiasmados com a chance de ir a uma aula de verdade, com um professor de verdade, presencialmente, com outras crianças.
"Minha filha, que está na terceira série, mal podia esperar para vir, vestir-se para a ocasião e encontrar seus amigos, dos quais sentia muita falta", disse a mãe, Marina Prikhodko. "Para meu filho, que está na primeira série, é como um dia de festa, uma chance de encontrar seus colegas de classe na vida real, não online."
O mais recente aumento dos combates? "Sim, é assustador", afirmou ela. "Mas aconteça o que acontecer, a vida continua e temos que tentar viver aqui e agora, todos os dias."
A nova escola tem uma matrícula inicial de 300 alunos, mas o prefeito de Kharkiv, Ihor Terekhov, disse que isso se expandiria para dois turnos diários de 450 alunos cada.
"Precisamos nos certificar de que tanto os professores quanto os alunos se acostumem com a escola e esperamos que, a partir de 1º de setembro, o número de alunos esteja completo", declarou ele.
Na inauguração da escola, na segunda-feira, muitos alunos usaram camisas tradicionais ucranianas bordadas, ou "vyshyvanky", para comemorar. Crianças de todas as idades se misturaram nos corredores e se sentaram atrás de carteiras em salas de aula espaçosas e sem janelas. O almoço era hambúrgueres e suco.
"É como se fosse dia e noite", disse o diretor Ihor Voznyi, comparando a nova escola com o que os alunos tinham que enfrentar antes.
"Nossas escolas não têm abrigos antibombas. Há porões, espaços subterrâneos que são totalmente inadequados para a realização de qualquer ensino. Os espaços aqui foram projetados para oferecer espaços modernos e de qualidade."