Por Eduardo Baptista e Jake Spring
RIO DE JANEIRO (Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu nesta segunda-feira a reunião de cúpula do G20 com o lançamento de uma aliança global de combate à fome e à pobreza, que recebeu o apoio de mais de 80 países.
Os líderes do grupo das principais economias começaram a chegar nesta segunda-feira ao Museu de Arte Moderna (NASDAQ:MRNA) do Rio de Janeiro para sua cúpula anual, preparando-se para uma mudança na ordem global com o retorno ao poder do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump.
As discussões sobre comércio, mudança climática e segurança internacional serão confrontadas com as fortes mudanças na política dos EUA que Trump promete ao assumir o cargo em janeiro, desde tarifas comerciais até a promessa de uma solução negociada para a guerra na Ucrânia.
Em seu discurso na abertura da reunião, Lula disse que os efeitos devastadores das mudanças climáticas podem ser vistos em todo o mundo, e pediu ação dos líderes para lidar com o aquecimento global e a pobreza.
A aliança lançada por Lula, para coordenar esforços globais para combater a fome e a pobreza, recebeu o apoio da União Africana, da União Europeia, de organizações internacionais, bancos de desenvolvimento e de entidades filantrópicas, como a Fundação Rockfeller e a Fundação Bill e Melinda Gates.
"A fome e a pobreza não são resultado da escassez ou de fenômenos naturais... É produto de decisões políticas, que perpetuam a exclusão de grande parte da humanidade", disse Lula.
"Em um mundo que produz quase 6 bilhões de toneladas de alimentos por ano, isso é inadmissível."
Os diplomatas que redigem uma declaração conjunta para os líderes da cúpula estão com dificuldades para chegar a um acordo sobre como lidar com a escalada da guerra na Ucrânia, até mesmo um apelo vago pela paz sem críticas de nenhum participante, disseram fontes.
Um grande ataque aéreo da Rússia na Ucrânia no domingo abalou o pouco consenso que eles haviam estabelecido, com os diplomatas europeus pressionando para revisar a linguagem previamente acordada sobre conflitos globais.
Os Estados Unidos responderam ao ataque russo retirando os limites anteriores sobre o uso pela Ucrânia de armas fabricadas nos EUA para atacar profundamente a Rússia.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, não participa do evento e o país está sendo representado pelo ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov.
A segurança no Rio de Janeiro foi reforçada com militares ajudando a polícia durante a cúpula.
Uma brigada do Exército foi alvo de disparos na manhã de domingo perto da Cidade de Deus, na zona oeste do Rio, informou a Polícia Militar do Rio nas primeiras horas desta segunda-feira. Ninguém ficou ferido no incidente na Cidade de Deus, a cerca de 20 km a oeste do local do G20.
NOVAS PRIORIDADES NA CASA BRANCA
Enquanto o presidente dos EUA, Joe Biden, chega enfraquecido com apenas dois meses restantes na Casa Branca, o presidente da China, Xi Jinping, será um ator central em uma cúpula do G20 repleta de tensões geopolíticas em meio às guerras em Gaza e na Ucrânia.
Xi anunciou medidas de apoio ao "Sul Global" e disse que a China apoiará o desenvolvimento ao construir uma Iniciativa Nova Rota da Seda "de alta qualidade", numa referência à marca de seu plano de política externa que busca direcionar investimentos chineses para projetos de infraestrutura no mundo em desenvolvimento, disse a emissora de TV estatal chinesa CCTV.
Autoridades brasileiras reconheceram que sua agenda para o G20, focada no desenvolvimento sustentável, na taxação dos super-ricos e no combate à pobreza e à fome, pode em breve perder força quando Trump começar a ditar novas prioridades globais a partir da Casa Branca.
A pressão do Brasil por uma reforma da governança global, incluindo as instituições financeiras multilaterais, também pode encontrar obstáculos com Trump, disseram autoridades brasileiras.
Biden, que visitou a floresta amazônica a caminho do Rio, deve anunciar uma promessa de repor o fundo da Associação Internacional de Desenvolvimento do Banco Mundial, destinado aos países mais pobres, e lançar uma parceria bilateral de energia limpa com o Brasil, disse uma autoridade de alto escalão dos EUA a repórteres.
Xi deve falar sobre a Iniciativa Nova Rota da Seda conforme exerce sua ascendência econômica. Até o momento, o Brasil se recusou a participar da iniciativa global de infraestrutura, mas há grandes esperanças de outras parcerias industriais quando Xi encerrar sua estada no país com uma visita de Estado a Brasília na quarta-feira.
A decisão do Brasil de não participar foi "um grande golpe para as relações", disse Li Xing, professor do Instituto de Estratégias Internacionais de Guangdong, afiliado ao Ministério das Relações Exteriores da China. "A China ficou muito decepcionada", declarou ele.
As negociações comerciais em torno do G20 serão estimuladas pelas preocupações de uma escalada na guerra comercial entre os EUA e a China, já que Trump planeja impor tarifas sobre as importações da China e de outras nações.
A verve de corte de impostos de Trump aumentará os ventos contrários aos esforços do Brasil para discutir a tributação dos super-ricos, uma questão cara ao presidente Lula, que a colocou na agenda do G20.
O mais novo aliado de Trump na América Latina, o libertário presidente argentino Javier Milei, já traçou uma linha vermelha sobre a questão. Os negociadores argentinos se recusaram a aprovar a menção do assunto no comunicado conjunto da cúpula, segundo diplomatas.
(Reportagem de Lisandra Paraguassu, Andreas Rinke, Eduardo Baptista, Jarret Renshaw e Elizabeth Pineau no Rio de Janeiro, Anthony Boadle em Brasília)