Por Marcelo Teixeira
CAMPINAS (Reuters) - Cafeicultores brasileiros esperam danos significativos às suas safras devido às geadas dos últimos dias, mas investidores, por outro lado, mantêm expectativas de uma produção recorde em 2020, o que gerou debates no segundo Fórum Mundial dos Produtores de Café, iniciado nesta quarta-feira.
Produtores e cooperativas do Brasil dizem que danos à safra do próximo ano são bastante prováveis, embora ainda estejam avaliando o quão intensas e extensas foram as geadas, enquanto agentes do mercado veem apenas um pequeno risco de problemas.
Os preços do café arábica subiram em Nova York nos dias que antecederam as geadas, mas recuaram nas sessões seguintes às notícias climáticas, com investidores realizando lucros. Eventuais novas altas nos preços dependerão fortemente dos resultados da avaliação de danos.
"As geadas não foram muito fortes, mas certamente haverá algum impacto à produção", disse Carlos Augusto de Melo, presidente da Cooxupé, maior cooperativa de cafeicultores do mundo e maior exportadora de café do Brasil.
José Marcos Magalhães, presidente da cooperativa Minasul, que recebe café de quase 200 municípios da principal área produtora do Brasil, vê uma redução de ao menos 5% nas projeções iniciais para a safra do ano que vem.
Apesar dos ganhos por conta das geadas, os preços globais permanecem perto de mínimas históricas, o que praticamente mal cobre os custos de produção para muitos produtores.
As expectativas de um novo recorde de produção no Brasil em 2020, quando o país retorna a um ano positivo em seu ciclo bienal de produção do arábica, ajudaram a limitar os avanços dos preços, apesar de sinais de declínios produtivos em outros países, com alguns cafeicultores abandonando o cultivo.
"Você pode esquecer esse recorde", disse César Jordão, produtor de café e membro da cooperativa Monteccer, da região do Cerrado Mineiro. "Vamos perder pelo menos 10% da produção esperada", afirmou ele.
Diversos produtores carregavam fotos de seus campos de café atingidos por geadas para mostrar no evento --era o caso de Osvaldo Bachião Filho, vice-presidente da Cooxupé, que disse que 50 hectares de sua fazenda foram severamente afetados.
Mas os investidores parecem ter uma visão diferente.
Um consultor brasileiro que assessora um fundo de hedge sediado nos Estados Unidos, que investe em contratos futuros, afirmou que o impacto à produção será mínimo.
"As geadas afetaram apenas as folhas no topo das árvores. Elas vão cair, mas o pé irá se recuperar e estará pronto para a floração", disse ele, que pediu para não ser identificado por não estar autorizado a falar publicamente.
O consultor afirmou ainda que as expectativas de outra produção recorde no Brasil no ano que vem "estão intactas".
(Reportagem de Marcelo Teixeira)