RIO DE JANEIRO (Reuters) - O diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Eduardo Barata, defendeu nesta quinta-feira que o governo realize mais estudos antes de seguir adiante com uma proposta de um leilão para contratação de novas termelétricas a gás, colocada em audiência pública pelo Ministério de Minas e Energia.
O ministério tem defendido que as térmicas são necessárias para atender requisitos de potência do sistema elétrico, mas Barata afirmou que o objetivo poderia ser alcançado com outras medidas, como a implementação de máquinas adicionais em hidrelétricas hoje já em operação, por exemplo.
"Nosso entendimento é que tínhamos que estudar um pouco mais, e aí sim partir para contratar potência, porque existem outras formas de atender além de térmicas", afirmou Barata durante evento da FGV Energia no Rio de Janeiro.
"Nós temos hidrelétricas com toda a parte civil pronta e seria só instalar máquinas... todas grandes usinas do Sudeste têm buracos para turbinas e gerador", acrescentou ele.
Um antigo estudo da Associação Brasileira de Geradores de Energia (Abrage) aponta que as hidrelétricas do Brasil possuem poços vazios ou potencial para inserção de máquinas adicionais em suas estruturas que permitiram adicionar turbinas com uma capacidade de 5,2 gigawatts.
Esse potencial, no entanto, ainda não foi aproveitado devido à falta de mecanismos regulatórios que permitam que os geradores viabilizem as obras.
Isso porque as máquinas adicionais não gerariam ganhos automáticos na garantia física, que é a quantidade de energia que cada usina pode vender no mercado, embora aumentem a chamada potência, para atender momentos de pico de carga, por exemplo, que é justamente o que o governo busca com o leilão de térmicas.
"Isso não aumenta a energia, mas aumenta a potência... a questão toda é como remunerar isso", afirmou Barata.
A proposta do governo de realizar o leilão, que de início previa contratação de usinas no Nordeste e posteriormente passou a incluir também outras regiões, tem sido vista com ressalvas por especialistas.
A consultoria especializada em energia PSR, por exemplo, defendeu em relatório neste mês que "seria mais adequado adiar essas decisões por dois ou três meses, permitindo que a equipe do próximo governo faça suas próprias propostas a respeito desse tema".
CONTROVÉRSIA
Mais cedo no mesmo evento da FGV Energia, o diretor de Operação do ONS, Francisco Arteiro, defendeu a ideia do governo de realizar o leilão e afirmou que a contratação de mais térmicas no Nordeste seria boa para o sistema.
Ele argumentou que as chuvas na região das hidrelétricas estão muito abaixo da média há tempos no Nordeste e que implantar usinas térmicas na região não exigiria investimentos em transmissão.
"Esse leilão que estamos tentando fazer no Nordeste tem sinal locacional adequado... zero investimento em transmissão... Será um leilão inédito", afirmou.
Uma fonte com conhecimento do assunto confirmou à Reuters que a realização do leilão não é um consenso no ONS, responsável por coordenar a operação das usinas de geração e do sistema de transmissão no Brasil para o atendimento à demanda por energia.
A proposta do Ministério de Minas e Energia seria apoiada por Arteiro, mas não contaria com a simpatia de Barata, para quem uma decisão nesse sentido não deveria ser tomada neste momento, no final do governo do presidente Temer, afirmou a fonte.
"Não é uma visão contra a fonte (termelétrica), mas pelo 'timing'", afirmou a fonte, que falou sob a condição de anonimato.
BANDEIRA VERDE?
Um retorno da conta de luz à bandeira tarifária verde, que não gera custo extra aos consumidores, não está descartado em dezembro, após um início favorável do período de chuvas na área das hidrelétricas brasileiras, que tradicionalmente começa em novembro, disse nesta quinta-feira o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Eduardo Barata.
Ele afirmou que a hidrologia está "promissora" e pode levar os reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste a superar 40 por cento de armazenamento ao final da época de chuvas, em abril, contra entre 19 por cento e 20 por cento no final do período seco.
As contas de luz estão atualmente com bandeira tarifária amarela, que gera custo extra de 1 real a cada 100 kilowatts-hora, após ficarem entre junho e outubro no patamar vermelho nível 2, que representa cobrança adicional de 5 reais a cada 100 kwh.
(Por Rodrigo Viga Gaier e Marta Nogueira no Rio de Janeiro; com reportagem adicional de Luciano Costa em São Paulo)