SÃO PAULO (Reuters) - A estatal Embrapa e a Basf anunciaram nesta terça-feira o lançamento da primeira soja geneticamente modificada totalmente desenvolvida no Brasil, resistente a herbicida, o que dá mais uma opção para produtores que já adotam transgênicos em larga escala no país.
O diferencial da soja chamada Cultivance está no uso de herbicidas da classe das imidazolinas para o controle de plantas daninhas. Atualmente, o Brasil utiliza amplamente a soja resistente ao herbicida glifosato.
"Essa ferramenta, ao ser integrada ao sistema de produção de soja, abre perspectiva para que o produtor brasileiro possa rotacionar herbicidas com diferentes mecanismos de ação para o manejo de plantas daninhas de difícil controle", disse o pesquisador da Embrapa Soja, Carlos Arrabal Arias, em nota.
Ele se refere à possibilidade de o produtor alternar entre diferentes tecnologias para evitar a seleção de plantas daninhas resistentes. O Brasil tem atualmente 34 casos de resistência.
"Este produto não vem para tomar o lugar do outro, mas para fazer uma rotação. É uma forma de dizer que estamos 'tapeando' as plantas daninhas. Além disso, nada melhor que concorrência. Com dois produtos, a tendência é que o preço da semente caia", acrescentou a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, em outro comunicado.
O sistema Cultivance atenderá a todas as regiões do país, mas num primeiro momento será lançado em Mato Grosso do Sul, Goiás, Mato Grosso, São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Rondônia, Bahia e Distrito Federal.
A distribuição leva em consideração as características das cultivares que serão colocadas no mercado na safra 2015/2016. À medida que houver registros de novas cultivares de soja, a comercialização será expandida para outros Estados.
Embora a tecnologia tenha sido aprovada no Brasil em dezembro de 2009, as duas empresas desenvolvedoras decidiram aguardar as aprovações dos países importadores da soja brasileira, para evitar qualquer problema no futuro.
A soja Cultivance está aprovada para importação em 17 países, incluindo a China (maior importador global) e União Europeia, maior importador de farelo de soja do Brasil.
O desenvolvimento da tecnologia levou quase 20 anos, considerando desde a pesquisa em laboratório até seu registro comercial e chegada ao campo.
A Basf possui a patente do gene ahas (gene aceto-hidroxiácido sintase), extraído da planta Arabdopsis thaliana, que confere tolerância ao herbicida da classe das imidazolinonas.
Em 1997, a empresa alemã disponibilizou o gene ahas para a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF), que desenvolveu um método inovador de transformação vegetal, possibilitando sua introdução no genoma da soja.
Seguindo processos de segurança, a Embrapa Soja (PR) realizou vários cruzamentos genéticos para obter cultivares com grande potencial produtivo e que expressassem tolerância ao herbicida da classe das imidazolinas.
(Por Roberto Samora)