Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - As importações de fertilizantes pelo Brasil, maior importador global de adubos, somaram volumes recordes em 2023 para atender o consumo que deu um salto e atingiu patamares próximos de máximas históricas, enquanto a produção local está decrescente, de acordo com dados divulgados nesta segunda-feira pela Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda).
O total importado pelo país no ano passado somou 39,439 milhões de toneladas, um pouco acima do recorde anterior, de 2021, quando somou 39,258 milhões de toneladas, segundo números consolidados pela associação que reúne as empresas do setor.
O volume importado no ano passado cresceu 14% ante 2022, quando os desembarques recuaram no acumulado do ano por conta dos preços altos -- impulsionados pela guerra na Ucrânia --, que limitaram a demanda pelos agricultores brasileiros, segundo números da Anda.
"2022 foi um ano de preços recordes em que os agricultores economizaram nas adubações utilizando os estoques de nutrientes do solo (principalmente para os fosfatados), de forma que em 2023 esses estoques precisaram ser repostos", explicou a analista de fertilizantes da Safras & Mercado, Maísa Romanello, à Reuters.
Essa maior necessidade de adubação, associada à queda nos preços dos fertilizantes ao longo de 2023 e aos bons patamares dos valores das commodities agrícolas, fez com que "a demanda por fertilizantes fosse fortemente recuperada", acrescentou Romanello.
As entregas de fertilizantes ao mercado brasileiro (indicador de consumo) somaram 45,826 milhões de toneladas em 2023, crescimento de 11,6% em relação a 2022, possibilitado por importações recordes, já que a produção nacional caiu 8,8% na mesma comparação, para 6,8 milhões de toneladas.
"Outro ponto importante é a queda na produção nacional de fertilizantes", acrescentou a analista.
Os totais importados indicam o quanto o Brasil, uma potência agrícola, é dependente do fertilizantes comprados no exterior, expondo uma das fragilidades do setor do agronegócio e do país, que bate recordes anuais de safras e exportações ano após ano.
O Brasil importou 86% do total consumido no ano passado, quando a colheita de grãos e oleaginosas foi recorde.
A Anda não fez comentários sobre os motivos do crescimento das importações e das entregas de produtos no mercado interno em 2023, dizendo apenas que o "balanço resulta do empenho do setor em garantir acesso ao insumo, a base nutritiva do solo brasileiro que garante consecutivas safras recordes".
ENTREGAS QUASE RECORDES
O total de entregas de adubos no ano passado ficou ligeiramente abaixo do recorde anual de 2021, quando o país registrou um mercado de 45,855 milhões de toneladas. Em 2022, o setor sofreu os impactos dos preços altos por conta da guerra, o que reduziu as vendas no mercado interno para cerca de 41 milhões de toneladas.
Já em 2023, apesar do forte consumo, as importações em alta resultaram em estoques de produtos intermediários para fertilizantes e formulações NPK (nitrogênio, fósforo e potássio) de 8,7 milhões de toneladas, avanço de 3% na comparação com 2022 e o maior patamar pelo menos desde 2020.
Em 2024, com grandes estoques no Brasil e incertezas climáticas que demandam maior cautela de produtores que estão semeando a segunda safra, as expectativa é de que as importações de fertilizantes no primeiro semestre sejam menores, conforme os volumes estocados são consumidos, disse a Romanello.
Mas a analista também destacou que o principal fator negativo para o mercado de fertilizantes tem sido os preços mais baixos da soja e do milho, "prejudicando as relações de troca" entre adubos e produtos agrícolas.
(Por Roberto Samora)