Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - O mercado de fertilizantes do Brasil deverá se recuperar na safra 2023/24, após ter sofrido forte impacto dos preços altos desses insumos em meio a desdobramentos da guerra na Ucrânia na temporada passada, de acordo com participantes de um congresso do setor nesta terça-feira, em São Paulo.
A relação de troca favorável (fertilizante/grãos) ao agricultor está entre os fatores para o aumento na demanda, após uma queda nos preços dos adubos garantir margens positivas aos produtores na safra que se inicia, apesar de um patamar mais baixo nas cotações da soja e do milho.
Além disso, há a demanda para adubar novas áreas e recompor nutrientes no solo, depois de uma redução na fertilização da safra 2022/23 de grãos.
"No nosso entendimento, tem áreas novas que precisam ser corrigidas. E trabalhamos este ano pensando em certa recomposição, e a relação de troca é positiva", disse o sócio da MB Agro, Alexandre Mendonça de Barros, durante evento da Associação Nacional Para Difusão de Adubos (Anda).
Para Barros, as entregas de fertilizantes no Brasil deverão crescer no melhor cenário para 42,8 milhões de toneladas na safra 2023/24, versus 41,1 milhões de toneladas em 2022/23.
O total do mercado brasileiro, entretanto, ainda ficaria abaixo do recorde de 45,9 milhões de toneladas da temporada 2021/22.
Para o diretor-executivo da Anda, Ricardo Tortorella, o mercado sinaliza que o Brasil terá um "ano muito parecido com 2022".
Por uma questão da política da associação, ele preferiu não fazer uma projeção, mas citou estimativas de consultores que apontam entregas entre 42 milhões e 43 milhões de toneladas.
"Vínhamos de uma pandemia, crise de energia, posicionamentos geopolíticos diferentes, seja da China, seja Rússia, há quem diga que estamos voltando para um patamar diferente", afirmou Tortorella.
Pelos últimos dados publicados pela Anda, até maio, o setor registrou entregas próximas de 15 milhões de toneladas, com crescimento de 1,5% em relação ao mesmo período do ano passado.
O diretor da Anda também destacou que os preços dos fertilizantes "caíram muito" em relação aos picos do ano passado, favorecendo a relação de trocas.
O Brasil está se preparando para o plantio da safra de soja, que começa em meados de setembro, com a expectativa de obter uma nova produção recorde, acima de 160 milhões de toneladas.
ENTREGAS TARDIAS
Barros, da MB Agro, avalia que as entregas de fertilizantes no Brasil devem ser mais tardias em 2023/24, após começarem o ano em ritmo mais lento, com produtores mais cautelosos sobre os valores do produto.
"O mercado vai acontecer tarde, vai ter correria logística, pode ser que avance para janeiro, a entrega vai ser tão em cima, na cara do gol, que o ano calendário não fecha", comentou.
De qualquer forma, ele acredita que a área da segunda safra de milho 2023/24, a ser semeada no ano que vem, não deverá cair, ainda que o nível tecnológico possa ter recuo.
Já o diretor da Anda lembrou que, apesar das vantagens competitivas da agricultura brasileira, o setor lida com riscos de importar cerca de 85% do fertilizante que consome.
"Nós ainda estamos muito vulneráveis...", afirmou.
Ele espera que o novo Plano Nacional de Fertilizantes, a ser lançado em novembro pelo governo, possa ajudar o país a reduzir sua dependência em relação ao produto importado no futuro.
Em mensagem aos participantes do evento, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, recordou que o presidente Lula recriou, em maio deste ano, o Conselho Nacional de Fertilizantes e Nutrição de Plantas (Confert), que vem se dedicando na elaboração de políticas públicas.
(Por Roberto Samora)