Por Marta Nogueira
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A redução da atividade econômica brasileira provocou uma retração no consumo de diesel no primeiro semestre, ante o mesmo período de 2014, e deve influenciar o primeiro recuo anual nas vendas do combustível desde 2009, disse nesta quarta-feira à Reuters um importante representante do setor de distribuição.
"O diesel é muito ligado à performance da economia... quando o mercado começa a vender menos, você transporta menos mercadoria, então você vê claramente que a demanda por diesel começa a desaparecer", afirmou o diretor de Abastecimento & Regulação do Sindicom, Luciano Libório, para quem é "muito difícil" que haja uma recuperação das vendas diante da situação econômica.
O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deve recuar 1,5 por cento em 2015, segundo a última pesquisa Focus, do Banco Central.
O diesel é o combustível mais vendido no Brasil e importante fonte de receita para a Petrobras (SA:PETR4).
Já a gasolina teve um declínio no consumo de 5,8 por cento no primeiro semestre ante o mesmo período de 2014, influenciada também pelo aumento da competitividade do etanol hidratado, cujas vendas cresceram 41 por cento na mesma comparação, segundo dados antecipados à Reuters pelo diretor do Sindicom, cujas associadas têm cerca de 80 por cento do mercado de distribuição de combustíveis automotivos do país.
As vendas de etanol contribuíram ainda com o aumento do consumo de combustíveis por motores Ciclo Otto, abastecidos por gasolina, etanol e Gás Natural Veicular (GNV). Em gasolina equivalente, o consumo desses motores teve alta de 0,8 por cento no primeiro semestre do ano ante o mesmo período de 2014.
"Se a economia ou a venda de veículos não voltarem a acelerar, esse número (de 0,8 por cento) pode piorar mais para o fim do ano ou no próximo", afirmou Libório.
"Por enquanto, ele ainda está se beneficiando dessa venda de veículos forte dos últimos dois, três anos."
O consumo de GNV, por sua vez, teve queda de 9,3 por cento no primeiro semestre, ante o mesmo período de 2014.
Os dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) sobre o consumo de combustíveis em junho ainda não foram publicados.
PREÇOS E DEMANDA POR GASOLINA
A redução da demanda por gasolina em relação aos anos anteriores é um dos atuais fortes argumentos da Petrobras para não ajustar o preço do combustível, que tem estado defasado em relação a valores internacionais.
O presidente da petroleira estatal, Aldemir Bendine, tem frisado que sua gestão irá aplicar preços competitivos e de mercado. Entretanto, defende que, se aumentar o preço da gasolina agora, poderá perder mais consumidores para o etanol.
A competitividade do etanol aumentou desde o final do ano passado, após a Petrobras reajustar os preços da gasolina, além do diesel. Além disso, o governo reimplementou tributos para os combustíveis fósseis.