Por Gustavo Bonato
SÃO PAULO (Reuters) - A falta de chuvas em Mato Grosso nas últimas duas semanas já preocupa produtores de soja e ameaça atrapalhar cronograma de plantio, com possíveis prejuízos ao potencial de colheita, disse nesta quarta-feira o presidente da associação que reúne agricultores do Estado.
"Você começa a bagunçar todo o planejamento e isso traz risco para a produtividade", disse à Reuters Ricardo Tomczyk, presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja MT).
O plantio de soja no Estado --maior produtor de grãos do Brasil e responsável por cerca de 30 por cento da colheita nacional de soja-- está atrasado em relação a 2013.
O relatório de plantio do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) divulgado na semana passada apontava trabalhos concluídos em 8 por cento da área total projetada. E praticamente não houve avanços desde então, devido à baixa umidade do solo.
"Já deveríamos estar em 20 a 30 por cento da área plantada", estimou Tomczyk.
A Somar Meteorologia disse nesta quarta-feira que o acumulado de chuvas nas principais regiões agrícolas de Mato Grosso desde o início do mês não passa de 6 milímetros, contra uma média histórica total para outubro de mais de 150 milímetros.
"Somente depois do dia 23 (de outubro) os modelos mostram chuva mais organizada e com volume mais expressivo em todo o Brasil", disse a Somar.
Quando as chuvas retornarem, trazendo a umidade no solo necessária para o desenvolvimento das sementes, restará bem menos tempo na chamada "janela" ideal de plantio.
"Se voltar a plantar em 25 a 27 de outubro, vamos ter atraso na janela... Vai ser um plantio concentrado. E há risco de uma colheita concentrada", disse o presidente da Aprosoja.
Os engenheiros agrônomos recomendam que o plantio e a colheita das lavouras sejam sempre feitos de maneira escalonada para evitar o risco de que todo a safra tenha que ser colhida durante um eventual período chuvoso, o que provocaria danos à qualidade dos grãos.
Outro problema de um prolongamento no fim da safra é a maior exposição das lavouras à umidade que favorece a incidência de doenças fúngicas, como a temida ferrugem asiática, que já causou enormes prejuízos em anos anteriores no Brasil.
Tomczyk projeta maiores custos com a aplicação de fungicidas, em um ano em que as margens de lucro dos produtores já deverão ser bastante apertadas pelo baixo preço da soja no mercado internacional.
Outro fator de aumento de custos é o possível replantio da soja que foi semeada na segunda quinzena de setembro, cada vez mais prejudicada pela baixa umidade.
"É uma visão bastante preocupante. Temos duas semanas de clima muito seco aqui no Estado. O calor beira o insuportável", descreveu.
Segundo ele, tendência é de que a próxima estimativa de safra a ser divulgada pelo Imea nas próximas semanas indique uma redução no potencial desta temporada.
Em sua projeção mais recente, divulgada ainda no final de agosto, o instituto financiado por entidades de produtores disse que a colheita de Mato Grosso alcançaria um recorde de 27,68 milhões de toneladas na atual temporada 2014/15.