Por Roberto Samora
SORRISO (Reuters) - A crise de oferta de milho no maior produtor brasileiro do cereal, o Mato Grosso, tem levado produtores de suínos a abater matrizes diante do custo elevado da matéria-prima, mas a situação é provisória e os altos preços da commodity deverão estimular agricultores a expandir fortemente a área plantada na próxima temporada.
A avaliação é do secretário-adjunto de Agricultura da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Mato Grosso, Alexandre Possebon, que acredita ainda que o Estado deverá elevar a semeadura de soja em 2016/17 e tem potencial para, em um futuro próximo, adicionar valor à produção por meio da expansão do processamento de carnes de aves e suínos.
"É de se imaginar que na próxima safra aumente muito o plantio de milho safrinha (segunda safra), o agricultor vai se sentir entusiasmado com esses preços", disse Possebon em entrevista à Reuters.
Ele lembrou que isso já aconteceu neste ano, com muitos produtores apostando em plantio até mesmo fora do período ideal para as chuvas, o que está puxando para baixo a produtividade média estadual.
Com as exportações do milho em patamares muito fortes em janeiro e fevereiro, impulsionadas pelo câmbio, a oferta do Mato Grosso foi drenada, o que elevou as cotações. Atualmente, os preços estão em níveis recordes de 40 reais/saca em praças como Rondonópolis, já que há escassez de produto e a colheita só deve se intensificar em mais algumas semanas.
A crise de oferta, apesar de grave, é pontual, segundo a autoridade. Ele lembrou que o milho é muito mais produtivo do que a soja, e mesmo com uma área menor que a oleaginosa, plantada na primeira safra, o cereal poderia ganhar maior destaque.
"Pode ser que em alguns anos sejamos conhecidos mais pela produção de milho do que pela soja", disse Possebon.
Em curto a médio prazo, "não é nada" sair dos atuais 4 milhões para 5 milhões de hectares de área plantada de milho, afirmou.
Para a soja, ele avaliou que a tendência é de que as áreas de soja continuem aumentando na próxima temporada, principalmente porque em algumas regiões a logística está melhorando, o que permite ao produtor receber mais pelo seu produto, já que os descontos pelo transporte são menores.
O secretário-adjunto disse ainda que os novos corredores logísticos ao norte, como os portos de saída dos grãos pelos rios amazônicos, serão fundamentais nesse processo. E afirmou que a produção de soja nos próximos anos deverá crescer mais fortemente em áreas como Vale (SA:VALE5) do Araguaia, ao leste, e em Alta Floresta, ao norte, onde a cultura está menos presente hoje.
A intenção de ampliar a área plantada também pode ser influenciada pelos preços internacionais e taxa de câmbio, além de disponibilidade de crédito.
MAIS VALOR
Segundo o secretário-ajunto de Agricultura do Mato Grosso, o movimento atual de preços elevados das commodities agrícolas passará, e o Estado está se preparando para dar opções ao produtor para comercialização no Estado, por meio da adição de valor com o processamento do milho em etanol ou em carnes.
Com expectativa de maior plantio, disse ele, o Estado poderia aumentar o consumo interno de grãos sem comprometer as exportações do Brasil, o maior exportador mundial de soja e o segundo em milho --a maior parte das vendas externas tem origem no Mato Grosso.
Visando elevar a produção de carnes, ressaltou ele, o Estado está prestes a receber um certificado internacional da Organização Internacional de Saúde Animal de livre de peste suína clássica, o que abrirá mercados internacionais em momento em que a BRF (SA:BRFS3) já investe para expandir granjas, com o objetivo de preencher a capacidade ociosa da grande fábrica de Lucas do Rio Verde.
Enquanto isso, a baixa rentabilidade das criações pela escassez da oferta, que ocorre também em outros importantes Estados produtores, tem levado a abates de matrizes de suínos em Mato Grosso.
"Estamos tendo abate de matrizes já, neste preço de milho começa a ter prejuízo por suíno de 10 a 20 reais... O produtor começa a abater matrizes para tentar diminuir o buraco", disse ele, acrescentando que a crise afeta mais os criadores independentes, sem contratos com produtores de carne como a BRF.
Ele ponderou que Estado tem poucas ferramentas para ajudar, mas afirmou que uma opção seria retirar o ICMS da venda de carne ou conseguir liberar financiamento a menor custo para granjas.