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ENTREVISTA-Produtores de grãos de Mato Grosso se preparam para 2016 difícil

Publicado 10.12.2015, 16:50
Atualizado 10.12.2015, 17:00
ENTREVISTA-Produtores de grãos de Mato Grosso se preparam para 2016 difícil
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Por Gustavo Bonato

SÃO PAULO (Reuters) - Após anos de relativa bonança, 2016 deverá ser de preocupação para produtores de grãos de Mato Grosso --principal Estado agrícola do país-- em praticamente todos os aspectos da atividade, do clima ao câmbio, projetou o novo presidente da associação que representa os agricultores.

"Vamos ter um ano de muitos desafios", disse à Reuters o produtor Endrigo Dalcin, que assume na noite desta quinta-feira, em Cuiabá, a presidência da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), uma das entidades mais atuantes do agronegócio brasileiro.

No curto prazo, uma das principais preocupações ainda é a irregularidade das chuvas, que prejudicou o início do plantio de soja da temporada 2015/16.

"Estamos passando por processo de clima complicado. El Niño está muito forte aqui... Tivemos um índice de replantio relativamente alto", afirmou Dalcin, referindo-se à necessidade de semear novamente lavouras de soja que receberam poucas chuvas.

Em função disso, segundo ele, algumas áreas estão sendo semeadas, atipicamente, ainda neste mês de dezembro, o que pode afetar a janela climática e as produtividades na colheita, no ano que vem.

Outro efeito da largada turbulenta na temporada de soja é o provável atraso também no plantio da segunda safra de milho, com eventuais perdas de produtividade. Há também agricultores que estão desistindo de plantar a chamada "safrinha de milho". Contudo, o executivo evitou fazer previsões sobre a extensão da área afetada.

"Vamos ter um problema de renda do produtor nessa safra. Existem lavouras boas e lavouras muito ruins", projetou Dalcin.

CMBIO E CUSTOS

Já estão distantes, na memória dos produtores rurais, os preços recordes da soja registrados em 2012, de quase 18 dólares por bushel, em meio a uma quebra de safra nos EUA.

De lá para cá, os preços caíram gradualmente, tocando em novembro o menor patamar desde 2009, abaixo de 9 dólares por bushel.

Em 2015, o que salvou a rentabilidade dos produtores foi a alta gradual do dólar ante o real, que permitiu a compra de insumos com cotações mais baixas do que as praticadas na venda antecipada dos grãos.

Para 2016, no entanto, há um forte temor dos produtores de que a aquisição de itens essenciais como fertilizantes e defensivos --majoritariamente importados-- tenham que ser feitos com o dólar em patamares elevados.

"É um alerta grande para a safra 2016/17. Se o dólar permanecer alto (no momento da venda dos grãos), alguns produtores podem se salvar no custo. Mas imagina se o dólar cair a 3 reais, por alguma melhoria de confiança no governo? É o pior dos mundos. Com os preços em Chicago baixos e um dólar em queda, o setor entra em colapso", afirmou o novo presidente da Aprosoja.

PROBLEMA ANTIGO

Dalcin chegou ao leste de Mato Grosso 30 anos atrás, aos 11 anos de idade, acompanhando os pais, agricultores.

Em três décadas, muita coisa mudou na região de Nova Xavantina, onde cultiva as terras da família, mas um problema antigo permanece: os custos de logística de escoamento continuam roubando uma parte significativa da margem de lucro dos produtores.

Em tempos de custos de produção elevados, a situação torna-se ainda mais crítica, disse Dalcin.

"A logística continua sendo nosso principal problema. Mato Grosso está no centro do país, longe para todos os lados", disse.

Segundo ele, as rotas de escoamento do leste de Mato Grosso, que poderia aproveitar melhor o novo polo exportador dos terminais portuárias de São Luís (MA), ainda são prejudicadas pelas condições ruins da BR-158.

Para os produtores do médio-norte de Mato Grosso, o transporte para os terminais do eixo dos rios Tapajós e Amazonas ainda é dificultado por dezenas de quilômetros inconclusos da BR-163, no interior do Pará.

"O escoamento pelo norte começou a funcionar, mas ainda num volume pequeno, comparado com o que desce para Vitória, Santos e Paranaguá. A saída pelo norte precisa ser fortalecida."

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