Por Roberto Samora e Marcelo Teixeira
SÃO PAULO (Reuters) - O Brasil deverá fechar a temporada 2017/18 com exportações recordes de soja, impulsionadas pela demanda da China, o que reduzirá os estoques finais da oleaginosa do país para o menor volume da história, previu a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) nesta terça-feira.
A Conab ainda reduziu a previsão de consumo de soja no país e destacou que o Brasil, maior exportador global da oleaginosa, pode ter de importar volumes adicionais do produto para suprir a demanda interna.
Os estoques finais de soja do Brasil em 2017/18 foram estimados em 434 mil toneladas, ante estimativa em agosto de 638 mil toneladas. O volume estimado agora é menor que a mínima anterior verificada na safra 2011/12 (448 mil toneladas), disse a Conab à Reuters.
A redução nos estoques foi feita apesar de um aumento na expectativa de produção de soja para um recorde de 119,3 milhões de toneladas, na colheita já encerrada, e com expectativa de exportações históricas de 76 milhões de toneladas, cerca de 8 milhões acima da temporada passada.
O aumento da safra, no entanto, mostra-se incapaz de acompanhar o apetite da China, após o maior importador global voltar-se para o Brasil depois de aplicar uma tarifa retaliatória de 25 por cento para compras do produto dos Estados Unidos em meados deste ano.
A Conab destacou que somente em agosto as exportações de soja do Brasil cresceram mais de 40 por cento, "devido à guerra comercial entre China e Estados Unidos".
"As altas exportações brasileiras de grãos, incentivadas pelo dólar e prêmios de portos elevados, mas principalmente pela guerra comercial entre China e Estados Unidos, reduziram a estimativa brasileira de esmagamento", afirmou a Conab.
"Mesmo com preços de farelo e óleo de soja no mercado internacional em alta, o Brasil deve continuar a exportar soja em grão, como forma de suprir o consumo dos chineses. Todavia, há uma chance remota do país começar a importar soja para suprir a demanda interna", acrescentou a agência brasileira.
A Conab manteve a previsão de importação de 400 mil toneladas de soja para 2017/18 --a expectativa supera em 100 mil toneladas o total importado na temporada passada. O Brasil costuma importar volumes de seus vizinhos, especialmente do Paraguai.
O consumo de soja do Brasil foi estimado em 45,5 milhões de toneladas, ante 47 milhões de toneladas na previsão de agosto --a maior parte desse consumo se refere a processamento de soja, e o restante diz respeito ao uso do grão como semente.
Na temporada passada, o consumo de soja havia somado 45,6 milhões de toneladas, segundo a Conab.
O economista da associação da indústria de soja, a Abiove, Daniel Amaral, afirmou que os números da Conab estão alinhados com os da entidade. A associação estima o processamento em 43,6 milhões de toneladas, enquanto o uso para sementes em 3,2 milhões de toneladas.
Ele ressaltou que os volumes de importação previstos pela Abiove também são "residuais", assim como aponta a Conab, e disse acreditar que o Brasil será capaz de atender toda a demanda interna --com as compras externas se mantendo baixas-- para a produção de farelo de soja para a indústria de ração e óleo para cozinha e utilizado também na indústria de biodiesel.
(Por Roberto Samora e Marcelo Teixeira)