Por Roberto Samora
SANTOS (Reuters) - Os estoques de café em países produtores estão diminuindo diante de uma corrida de importadores antes da vigência de lei antidesmatamento da União Europeia, prevista para 31 de dezembro de 2024, disse a diretora-executiva da Organização Internacional do Café (OIC), a brasileira Vanúsia Nogueira, nesta quarta-feira.
Em entrevista no Seminário Internacional de Café, em Santos (SP), ela afirmou que alguns importadores de café temem alguma "surpresa" sobre a regulamentação da lei antidesmatamento da UE e têm acelerado as compras, em meio a dúvidas que pairam ainda em torno da nova legislação.
Há questões na lei europeia que ainda não foram respondidas, pontuou ela, apesar do esforço do setor para tentar se adequar às regras.
"Os importadores estão puxando mais café porque tem parte das perguntas que eles (europeus) ainda não responderam. E vai saber se vai ter alguma surpresa" quando responderem, disse Nogueira à Reuters.
Ela não detalhou números sobre a redução de estoques.
Segundo ela, Brasil, Colômbia e Costa Rica são os países mais bem estruturados para atender à legislação europeia.
O Brasil tem exportado volumes recordes de café nos últimos meses. O maior produtor e exportador global teve neste ano os Estados Unidos liderando o ranking de importadores, seguidos pela Alemanha, Bélgica, e Itália, segundo dados do Conselho de Exportadores do Brasil (Cecafé).
AFRICANOS
Mas há países na África, onde as propriedades agrícolas são pequenas e falta tecnologia para atender o que pede a UE, que deverão encontrar mais dificuldades para cumprir os requisitos, que preveem multas para aqueles que não cumprirem.
"Tem produtores com meio hectare, sem acesso a internet, como em Ruanda, Etiópia e Quênia...", exemplificou.
Nogueira ressaltou ainda que o café, há tempos, já não é vetor de desmatamento. A lei europeia inclui ainda produtos como soja e cacau.
Para a diretora da OIC, as incertezas sobre a lei antidesmantamento, a menos de um ano do fim do prazo para que ela vigore, geram expectativas de que as regras passem a valer inicialmente sem caráter punitivo.
"Eles sempre dizem que tudo é feito para não deixar ninguém para trás... Se entrar em vigor, vão deixar esse pessoal para trás", disse a executiva, referindo-se especialmente aos africanos.
Ela revelou que tem tido retorno de delegados europeus sobre a possibilidade de a lei não punir no início aqueles que não estiverem adequados a ela.