Por Karen Braun
(Reuters) - As exportações de milho dos Estados Unidos geralmente começam a aumentar em janeiro, com a diminuição dos embarques de soja, mas essa tendência de alta ainda não surgiu, em grande parte devido às fracas vendas ao exterior.
A China é o ingrediente que falta para os exportadores dos EUA, já que as encomendas robustas do país asiático inflaram as exportações de milho norte-americano nos dois anos anteriores, apesar dos altos preços, que geralmente limitam a demanda.
No início deste mês, as vendas de milho dos EUA para a China na temporada atual foram quase 70% menores do que no mesmo ponto dos dois anos anteriores, e as esperanças de que compras semelhantes eventualmente apareçam começaram a diminuir.
Mas a demanda chinesa não está morta, de acordo com dados do Brasil, que embarcou mais de 1 milhão de toneladas de milho para a China no mês passado e está a caminho de repetir o desempenho neste mês.
Embora o interesse da China no milho brasileiro possa ser um tanto negativo para os exportadores dos EUA, as compras são favoráveis ao mercado global, pois refletem a intenção do país asiático de continuar importando o grão amarelo, usado predominantemente para fabricação de ração animal.
As exportações brasileiras de milho devem desacelerar nos próximos meses, abrindo a possibilidade de que a China se volte para o mercado americano. Mas os compradores chineses não garantiram nenhum volume notável de milho nos EUA desde abril de 2022, e mesmo isso foi significativamente mais leve do que o frenesi de compras do início de 2021.
Os Estados Unidos continuam sendo o maior exportador mundial de milho, mas seu reinado está diminuindo rapidamente com a expansão da indústria brasileira do cereal, e pode não demorar muito para que outros países se juntem à China na preferência pela oferta brasileira.
Reduzindo embarques
A safra de milho dos EUA em 2022 foi menor do que o esperado e mais fraca do que nos dois anos anteriores, reduzindo o potencial de exportação.
Mas a maioria das estimativas de exportação dos EUA para 2022/23, incluindo as do Departamento de Agricultura (USDA, na sigla em inglês), originalmente incorporou uma compra muito mais forte da China do que foi visto.
O fracasso com a China certamente fez com que as metas de exportação caíssem, embora no início deste mês as vendas totais de milho dos EUA para todos os outros destinos estivessem no menor nível em 10 anos até o momento.
Esses fatores provavelmente forçaram o USDA a fazer uma enorme redução de 150 milhões de bushels na semana passada nas exportações de milho dos EUA, agora em 1,925 bilhão de bushels (48,9 milhões de toneladas) para o ano comercial de 2022/23 que termina em 31 de agosto.
Mais cortes podem ser necessários se as vendas continuarem baixas. Apenas 45% da estimativa de exportação de janeiro do USDA foi vendida em 5 de janeiro, a segunda menor taxa de cobertura nos últimos 15 anos.
Novo rei chegando?
Os Estados Unidos há muito tempo são os maiores exportadores de milho, respondendo por cerca de 60% dos embarques globais na primeira década deste século.
Isso vacilou no início da década passada com uma série de problemas com as safras dos EUA, que essencialmente convidaram outros fornecedores para a mesa.
Mas, nos últimos anos, o aumento da capacidade de produção e exportação do segundo maior exportador, o Brasil, colocou os Estados Unidos em sério risco de perder sua coroa do milho, algo que muitos acreditavam que não poderia acontecer tão cedo.
No ano comercial de 2022/23, de outubro de 2022 a setembro de 2023, o USDA prevê que o Brasil enviará ao mercado internacional 48,5 milhões de toneladas de milho contra 51 milhões para os EUA.
Essa vantagem de 2,5 milhões de toneladas nos EUA se compara a uma margem média de cinco anos de mais de 26 milhões de toneladas.
O Brasil exportou quase 8 milhões de toneladas a mais de milho do que os Estados Unidos em 2012/13 após uma seca devastadora nos EUA, mas as exportações americanas têm sido mais fortes do que as brasileiras a cada ano desde então em pelo menos 10 milhões de toneladas.
Para contextualizar, as exportações de milho do Brasil chegaram a 10 milhões de toneladas no ano comercial de 2010/11 e ultrapassaram 26 milhões de toneladas dois anos depois.
No calendário do USDA, a temporada 2018/19 detém o atual recorde de exportação do Brasil de 38,8 milhões de toneladas.
Em comparação, o recorde dos EUA de 68,3 milhões de toneladas foi estabelecido no ano comercial de 2020/21, de outubro a setembro.
A safra de milho 2022/23 do Brasil é vista em um recorde de 125 milhões de toneladas, quase um quarto maior que a média recente. Um rápido aumento na segunda safra fortemente exportada, plantada imediatamente após a colheita da soja, contribui para o maior potencial de exportação.
As exportações de milho dos EUA podem se recuperar em 2023/24 se a safra de 2023 for forte, mas pode ser possível para o Brasil roubar o primeiro lugar de qualquer maneira se as exportações recentes e o crescimento da safra forem alguma indicação.
Karen Braun é analista de mercado da Reuters. As opiniões expressas acima são dela.